Quase 3 mil professores da rede estadual de 15 municípios do Vale do Rio Pardo vão escolher, na próxima semana, a nova direção do 18º núcleo do Cpers, um dos sindicatos mais representativos da região. A eleição tem pelo menos duas particularidades: será a primeira totalmente online da história da entidade e conta com duas frentes originadas do mesmo grupo político, que se dividiu na atual gestão, após décadas.
Dois militantes veteranos estão na liderança das chapas: a atual diretora do núcleo, Cira Kaufmann, e o seu antecessor no cargo, Renato Müller. Ambos são filiados ao PT, têm longas trajetórias no magistério e já estiveram na direção em várias oportunidades desde os anos 1990, sempre nas mesmas chapas.
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O rompimento se deu durante a tramitação do novo plano de carreira dos professores estaduais, apresentado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) e aprovado em janeiro do ano passado pela Assembleia Legislativa. A decisão da atual presidente estadual, Helenir Schürer, de sentar à mesa com líderes governistas para negociar ajustes no texto do projeto revoltou alguns setores da entidade.
A situação fez Cira e outros dirigentes retirarem o apoio a Helenir. “Isso não poderia ter acontecido. Ela deveria ter chamado a categoria para uma assembleia ou se reunido com os núcleos”, afirma.
Já outra ala entende que a condução de Helenir garantiu que a reforma, cuja aprovação era considerada inevitável devido ao tamanho da base governista, fosse menos danosa à categoria. “Nós aplaudimos. O prejuízo foi muito menor”, avalia Müller.
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A eleição será, na prática, um plebiscito sobre os rumos da relação do sindicato com o governo estadual. Enquanto o grupo de Cira defende uma postura mais combativa, a frente de Müller prega diálogo e condena o que considera radicalismo.
A votação vai começar às 8 horas da próxima quarta-feira, dia 26, e será encerrada às 22 horas da sexta-feira, 28, no site do sindicato. Na disputa pela direção central, estão três chapas: a chapa 1 é liderada por Cleusa Werner, a 2 é liderada por Helenir Schürer e a 3 é encabeçada por Candida Rossetto.
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Os candidatos
Chapa 3 – Cira Kaufmann
É a atual diretora do 18º núcleo, função que já havia ocupado na década de 1990. Aposentou-se em 2015, com 30 anos de magistério. Professora de História e Geografia, também esteve na direção da Escola Vera Cruz, foi secretária municipal de Educação e coordenadora regional de Educação. Atualmente, é vereadora pelo PT em Vera Cruz, onde também já concorreu a prefeita duas vezes.
“Na negociação, não ganhamos nada”
Defensora de um sindicato “mais combativo”, Cira afirma que a forma como a atual direção central do Cpers vem conduzindo a relação com o Estado é prejudicial à categoria. “Ela atuou conciliando com o governo e não enfrentando o governo quanto às grandes agressões que sofremos”, disse, lembrando que os professores estão há sete anos sem reposição salarial.
Segundo a candidata, a gestão Leite é “muito dura com o magistério” e não está aberta a conversar. “Na negociação, não ganhamos nada, apenas perdemos. Perdemos o plano de carreira, os aposentados voltaram a contribuir com o IPE Previdência, as escolas perderam o difícil acesso”, criticou. Cira também afirma que não houve, da parte do sindicato, um movimento no sentido de preparar os professores para o retorno às aulas presenciais.
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Apoiadora de Candida Rossetto para a direção central, Cira tem como prioridades o fortalecimento das instâncias democráticas do sindicato, a defesa da autonomia das direções escolares, o fortalecimento dos conselhos escolares e grêmios estudantis e a reivindicação por mais especialidades no IPE Saúde na região.
Chapa 2 – Renato Müller
Já esteve quatro vezes na direção do 18o núcleo desde a década de 1990. A última foi entre 2014 e 2017. Aposentou-se em 2018, após 45 anos de magistério. Professor de Língua Portuguesa, lecionou em Cerro Branco, Paraíso do Sul, Novo Cabrais, Candelária e, mais recentemente, Venâncio Aires, onde hoje reside. Ele também passou pela direção de algumas escolas. Müller é filiado ao PT.
“Não pode ser na base do radicalismo”
Crítico do que considera “radicalismo”, Müller afirma que o sindicato deve buscar negociação, independentemente de qual for a gestão. Ele alega que a pressão da atual direção central garantiu que o impacto da reestruturação dos planos de carreira fosse menor. “Não importa se o governo é A, B ou C, se eu gosto ou não gosto, tem que ir lá e conversar. Se não for, o governo faz o que quer. Não pode ser na base do radicalismo”, disse. Müller alega ainda que as propostas lançadas pelo sindicato devem ter o aval das bases e não podem ser impostas. “Temos que ter os pés no chão da escola, olhando no rosto de cada um para ver se querem fazer, e não impor.”
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Elogioso à gestão de Helenir Schürer, afirma que ela herdou um sindicato “falido e endividado”, situação que melhorou ao longo de seu mandato, além de considerá-la “ética” e respeitosa nas manifestações. Müller também acusou os adversários de “criarem um novo grupo por baixo” e criticou o rompimento com a atual direção central.
Suas propostas incluem mais diálogo com a bases do sindicato, a retomada da organização do Fórum Nacional de Educação na região e um projeto para levar a assessoria jurídica da entidade até os demais municípios, a fim de facilitar o acesso dos associados ao serviço.
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