ads1
GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

O que Deus tem a ver com isso?

Percorro lentamente a Benno Kist. É o fim de uma tarde abafada de sábado em Santa Cruz do Sul, mas quando começo a subida abro a janela do carro para confirmar o que já sei. Que naquelas curvas onde a vegetação se adensa, mesmo em dias muito quentes, é possível sentir o frescor que vem do mato. É uma delícia.

Um sopro de ar úmido lembrando o quanto é bom, e importante, ainda termos uns pedaços de mata atlântica. Mesmo que meio sequelados. Ainda que a uva-japonesa já tenha invadido todas as áreas e os condomínios ameacem o cinturão verde. Se isso se confirmar, e acho que vai, em breve o verão nessa parte da cidade será tão insalubre quanto na área mais urbanizada. As construções terão reduzido as árvores a nacos de “preservação” que nenhum conservacionista sério ousaria chamar de suficiente.

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Corte a corrente

Publicidade

Fazer o quê? Se você tivesse uma propriedade rural considerável naquele local, e pudesse transformá-la em um lucrativo condomínio, abriria mão desse dinheiro para “preservar a natureza”? É um caso complexo. A legislação permite. E as ressalvas legais não vão evitar a rápida transformação de uma paisagem belíssima em mais um bairro superpovoado. A cada dia que olho ao longe, mais e mais casas surgem, pintando de branco e cinza o verde de antes. Um caminho sem volta. Nosso legado às gerações futuras.

Nessa migração de humanos por sobre o cinturão, me comove sobretudo os pequenos animais silvestres que resistem. À noite, eles saem das tocas para a caça e ainda os vemos, isolados e talvez se perguntando quem são esses estranhos em suas terras. Uma lebre que ganhou a alcunha de coelho bege, um ouriço que se desloca malemolente, as corujas buraqueiras, um cachorro do mato. Até quando? Onde irão procurar alimentos quando enfim tivermos derrubado tudo?

Publicidade

LEIA TAMBÉM: Sem reeleição

Publicidade

Somos, nós humanos, os seres mais inteligentes do planeta. Mas é um fato que não me orgulha. Nossa vaidade tem feito estragos. Nossas crenças também. Admito que sempre achei um excesso do ego inventar que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Pequenos deusinhos, se é que entendi bem. Como é que as pessoas acreditam nisso? No século 21, com tanto conhecimento científico à disposição, não falta quem pense que nos servir é a única função de todos os demais seres vivos. E ainda colocam Deus no meio, para sacramentar sem culpa a destruição.

Não, eu não jogaria molho de tomate em obra de arte para chamar a atenção, mesmo sabendo que as peças não são danificadas. Mas entendo perfeitamente quem faz isso. Vejo pelas fotos que são jovens. Talvez cansados de outros caminhos e de outras performances. Não sei se a tática vai ajudar na briga sempre muito desigual entre ambientalistas e o resto do mundo. Mas confesso: essa garotada me enche de esperança.

Publicidade

LEIA MAIS COLUNAS DE ROSE ROMERO

Publicidade

Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Publicidade

© 2021 Gazeta