Percorro lentamente a Benno Kist. É o fim de uma tarde abafada de sábado em Santa Cruz do Sul, mas quando começo a subida abro a janela do carro para confirmar o que já sei. Que naquelas curvas onde a vegetação se adensa, mesmo em dias muito quentes, é possível sentir o frescor que vem do mato. É uma delícia.
Um sopro de ar úmido lembrando o quanto é bom, e importante, ainda termos uns pedaços de mata atlântica. Mesmo que meio sequelados. Ainda que a uva-japonesa já tenha invadido todas as áreas e os condomínios ameacem o cinturão verde. Se isso se confirmar, e acho que vai, em breve o verão nessa parte da cidade será tão insalubre quanto na área mais urbanizada. As construções terão reduzido as árvores a nacos de “preservação” que nenhum conservacionista sério ousaria chamar de suficiente.
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Fazer o quê? Se você tivesse uma propriedade rural considerável naquele local, e pudesse transformá-la em um lucrativo condomínio, abriria mão desse dinheiro para “preservar a natureza”? É um caso complexo. A legislação permite. E as ressalvas legais não vão evitar a rápida transformação de uma paisagem belíssima em mais um bairro superpovoado. A cada dia que olho ao longe, mais e mais casas surgem, pintando de branco e cinza o verde de antes. Um caminho sem volta. Nosso legado às gerações futuras.
Nessa migração de humanos por sobre o cinturão, me comove sobretudo os pequenos animais silvestres que resistem. À noite, eles saem das tocas para a caça e ainda os vemos, isolados e talvez se perguntando quem são esses estranhos em suas terras. Uma lebre que ganhou a alcunha de coelho bege, um ouriço que se desloca malemolente, as corujas buraqueiras, um cachorro do mato. Até quando? Onde irão procurar alimentos quando enfim tivermos derrubado tudo?
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Somos, nós humanos, os seres mais inteligentes do planeta. Mas é um fato que não me orgulha. Nossa vaidade tem feito estragos. Nossas crenças também. Admito que sempre achei um excesso do ego inventar que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Pequenos deusinhos, se é que entendi bem. Como é que as pessoas acreditam nisso? No século 21, com tanto conhecimento científico à disposição, não falta quem pense que nos servir é a única função de todos os demais seres vivos. E ainda colocam Deus no meio, para sacramentar sem culpa a destruição.
Não, eu não jogaria molho de tomate em obra de arte para chamar a atenção, mesmo sabendo que as peças não são danificadas. Mas entendo perfeitamente quem faz isso. Vejo pelas fotos que são jovens. Talvez cansados de outros caminhos e de outras performances. Não sei se a tática vai ajudar na briga sempre muito desigual entre ambientalistas e o resto do mundo. Mas confesso: essa garotada me enche de esperança.
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