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Direto da Redação

O que Bebela me ensinou

“Tragédia pra mim é morte.” Sentada no sofá de uma casa de poucos cômodos, Isabel Maria talvez não saiba tudo que foi capaz de resumir em cinco palavras. Em um mundo desigual,  Bebela aprendeu cedo que trágico mesmo é perder alguém. É morrer. Sepultar. O resto faz parte da vida. Não há que se perder tempo com lamentos. 

Bebela se orgulha de ter ao seu redor os filhos que criou com empenho diário. “Eu tinha dez. Agora tenho nove”, explica a conta injusta. Wesley, o quarto deles, foi morto a tiros aos 16 anos. E agora Bebela chora. A perda de um filho, sim, é razão para chorar. Ela sabe disso, mas tenta encontrar as forças que lhe faltam. Apega-se com sua fé. Reza para que o seu menino esteja em outro lugar.  Esteja bem.

A mãe queria mesmo é que ele estivesse ali. Junto dela. Ao alcance dos seus braços, do seu zelo. Brincando de construir carrinhos de madeira com os irmãos. “Se tivesse uma perna quebrada, um braço, a gente cuidava dele. Mas não teve jeito.” Bebela queria ter tido tempo para salvar o filho. Queria se colocar na frente da arma que alvejou o garoto enquanto dormia. Transformar-se no escudo do qual são feitas as mães. Mas não pode.  

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Um dia antes de ser morto, Wesley brincava com os pequenos. Apesar de adolescente, ainda era um garoto. Adorava futebol. Tinha muitos amigos, tantos que lotaram um ônibus para ir ao enterro. “Na hora da dor, a gente acha que as pessoas vão ter uma desculpa, mas elas foram.”  A mãe se orgulha das amizades que o filho cultivou, mas lamenta o tempo que ele não teve para realizar seus sonhos. Agora não há mais nada que possa ser feito. Por ele, ela só pode chorar. 

Quando me afasto de Bebela, me reviro pensando nas vezes em que sofri por minhas tragédias não trágicas. Em quanto somos injustos com a vida. Em como perdemos tempo, enquanto temos tanto.  Passo o dia pensando nisso. Então acordo pela manhã com uma tragédia. Uma tragédia real. Bebela tem razão. Trágica mesmo é a morte. 

O luto que ultrapassa os limites de uma cidade, de uma nação e de uma bandeira. A dor que une, porque não há nada mais a se fazer nessa hora do que ser solidário. Abraçar a dor do outro, ainda que não sejamos capazes de mensurar sua extensão.  

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Então, em meio a esse caos, me deparo com relatos de pessoas que, ao se verem diante da tragédia, deram-se conta de que ainda vivem. E precisamos aceitar que estamos vivos. E valorizar isso. Fazer o melhor possível pelos que não estão. Pelos que não podem mais abraçar, não podem voltar para casa e nem confortar aqueles que amam. Sejamos nós os seus braços. Sejamos nós sua extensão possível. Sejamos ternos. Amorosos. Façamos a diferença para amenizar as tragédias dos outros. Porque viver é a maior homenagem que podemos prestar a eles. #ForçaChape #ForçaBebela

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