Polícia

O que alega a defesa da mulher que matou homem com mais de 50 facadas em Santa Cruz

Passados dois meses, ainda são cercados de mistério os detalhes a respeito do homicídio mais emblemático registrado em Santa Cruz do Sul neste ano. Em 12 de abril, Karine Ruppenthal Guerreiro, de 39 anos, matou a facadas o engenheiro Maurício Zart Arend, 36, em um apartamento de prédio localizado na Travessa Haun, região central da cidade.

Chamou a atenção na época que, tão logo as forças policiais chegaram à cena do crime, constatou-se que a vítima havia morrido com mais de 20 facadas, fato que embasou uma prisão em flagrante lavrada pelo delegado Marcelo Chiara Teixeira. Conforme apuração da Gazeta do Sul ao longo dos últimos dias, posteriormente foi confirmado que mais de 50 golpes foram desferidos contra o homem.

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A Polícia Civil trabalha para resolver o caso, mas se vê de mãos atadas. De acordo com a delegada Ana Luisa Aita Pippi, perícias técnicas importantes não foram concluídas, sobretudo os laudos que vão apontar de forma definitiva se apenas Karine desferiu os golpes ou houve a colaboração do seu filho de 15 anos no ato.

Essa demora se deve ao fato de o Instituto-Geral de Perícias (IGP), de Porto Alegre, estar atualmente tentando colocar em dia a grande demanda de solicitações de delegacias de todo o Estado, após a paralisação momentânea nos atendimentos devido às enchentes de maio. Representante de Karine no caso, o advogado criminalista Mateus Porto concedeu uma entrevista à Gazeta, onde deu detalhes a respeito do andamento do processo.

Porto fez questão de salientar que as duas facas apreendidas na cena do crime – uma das quais acabou quebrando e foi encontrado só o cabo, pois a lâmina teria ficado no corpo de Maurício – foram usadas apenas por Karine, sem a participação do filho. “Utilizou os meios necessários de que na hora ela dispôs, diante das agressões que estava sofrendo. Pelo contexto apurado até então, a situação claramente trata-se de legítima defesa.”

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Para o criminalista, houve um avanço agressivo por parte de Maurício contra Karine. “Sobre a quantidade de golpes, o que podemos por ora dizer é que no aspecto jurídico, o número de facadas por si só não caracteriza eventual excesso. Pois tem que se analisar o contexto, e no caso a alegada vítima era homem, jovem e muito mais forte fisicamente do que a mulher, que estava na ocasião sendo agredida de forma violenta e viu-se obrigada a se defender”, disse ele.

“A legítima defesa é uma reação humana. Em meio a uma violenta briga física, é inexigível em termos humanos que a reação seja proporcionalmente milimétrica à agressão, como se fosse uma equação algébrica. Pois quem se defende de uma agressão violenta, na hora não dispõe de um controle emocional a ponto de reagir friamente, em equivalência precisa com a violência sofrida”, complementou.

“Sobreviveu porque conseguiu reagir”

Segundo o advogado Mateus Porto, neste momento, como o caso segue pendente de conclusão do inquérito pela 1a Delegacia de Polícia (1a DP), a defesa aguarda a definição para tomar as novas providências que forem necessárias. Conforme ele, embora tenha desferido as facadas, a verdadeira vítima no caso analisado foi Karine, que respondeu a uma ação primária de Maurício.

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“Ela foi inicialmente agredida fisicamente dentro da sua própria casa, situação que infelizmente ocorre com inúmeras mulheres que são covardemente agredidas no seu ambiente doméstico”, comentou o criminalista.

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Segundo ele, a autora agiu como pôde na ocasião, sob o amparo da excludente de ilicitude da legítima defesa, tanto da sua própria pessoa como do filho adolescente. “A mulher no caso é que foi vítima das agressões, e somente sobreviveu porque conseguiu reagir na ocasião.” Para Mateus Porto, as imagens de câmeras de segurança do prédio na Travessa Haun, que mostram parte da ação inicial do crime – e às quais a Polícia Civil teve acesso – corroboram a tese defensiva da legítima defesa.

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“Nas imagens referidas, percebe-se nitidamente que o homem invadiu o local, e estava bastante transtornado e agressivo”, disse. Sabe-se que o relacionamento de Karine e Maurício era casual, de pouco tempo, o que é evidenciado num post dela em uma rede social. “Meu erro foi ter acreditado que aquele homem com sorriso cativante, inteligente e querido por momentos e poucas conversas era uma boa pessoa”, disse ela, em parte do desabafo publicado.

Karine, que chegou a passar uma noite no Presídio Estadual Feminino de Rio Pardo, ganhou liberdade provisória concedida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse no dia seguinte ao crime, após audiência de custódia em que a magistrada homologou a prisão em flagrante. Desde então, a mulher de 39 anos aguarda o andamento do caso. Conforme Mateus, ela e o filho não chegaram a deixar a cidade, mas estão bastante abalados e precisam de auxílio médico.

“Fazem tratamento psicológico. Numa situação como essa, é natural que a pessoa fique abalada psicologicamente. Mesmo diante de uma situação de legítima defesa, ocorrida no âmbito de uma relação conjugal ocasional ou fortuita, um fato dessa amplitude, que envolveu óbito, certamente nunca se esquece, e fica como um anátema para sempre.”

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Paula Appolinario

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Paula Appolinario

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