Consolidados o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer à Presidência, a expectativa de todos é pela superação da crise política e econômica que castiga o País há mais de um ano. Embora Dilma e Temer tenham sido eleitos juntos em 2014, tudo indica que a troca de governo irá representar uma guinada na administração pública. E a dúvida que fica, à revelia de toda a controvérsia sobre sua legitimidade, é: a região do Vale do Rio Pardo vai ganhar ou perder com esse processo político?
Lideranças ouvidas pela Gazeta do Sul apontam tanto indícios positivos quanto negativos. No que toca à economia, já há sinais de retomada da confiança de investidores. “O que precisamos é que o mercado comece a operar com mais tranquilidade, e ao que tudo indica isso vai acontecer”, observa o representante da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Flávio Haas. Além disso, o novo governo já demonstrou uma inédita boa vontade com o setor fumageiro. “Parece que a questão ideológica será deixada de lado”, entende o presidente da Câmara Setorial do Tabaco, Airton Artus.
Por outro lado, a política de austeridade fiscal prometida por Temer pode comprometer benefícios e programas importantes para a região, como os voltados à agricultura familiar, pilar da economia local. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Renato Goerck, a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário foi um primeiro sinal desse perigo. “Não estamos vendo isso com bons olhos. São coisas que conquistamos a duras penas e que agora estão em risco”.
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ONDE PODEMOS GANHAR
Fumicultura
Os primeiros sinais dados pelo governo apontam para um redirecionamento na relação com o setor fumageiro, historicamente hostilizado pelas políticas antitabagistas. Isso ficou claro na histórica visita do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, à região no mês passado, e com a disposição do ministro da Saúde, Ricardo Barros, de conhecer de perto a realidade da cadeia. “Pelo menos teremos um adversário a menos, que é o governo federal”, aponta o presidente da Câmara Setorial do Tabaco, Airton Artus.
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Obras
É esperada para setembro uma primeira leva de concessões e privatizações, que deve incluir aeroportos e rodovias. Embora nada tenha sido confirmado até o momento, existe a expectativa de que, na esteira disso, seja viabilizada a aguardada duplicação da BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande.
Repasses
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A expectativa é que, se a economia de fato reagir, melhore a situação financeira das prefeituras, que atualmente é crítica. De acordo com o presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Luciano Pinto, com a retomada dos investimentos, a arrecadação deve crescer e os repasses da União, hoje desfalcados, devem ser estabilizados. Além disso, segundo ele, o governo já demonstrou sensibilidade em relação aos municípios. Essa semana, por exemplo, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, sinalizou que será repassada às prefeituras uma parcela dos valores não declarados que estão sendo repatriados do exterior.
ONDE PODEMOS PERDER
Dólar
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Com a promessa de estabilização da economia, a tendência é que o dólar, que disparou em 2015, se desvalorize frente ao real, o que pode trazer prejuízos a setores exportadores, como o fumageiro. “Quando falamos em setor fumageiro, falamos em 70% ou 80% de nossa economia. E a questão cambial é muito importante porque afeta a rentabilidade deste setor”, observa o representante da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Flávio Haas.
Fim do MDA
Outra decisão que surgiu no embalo da reforma administrativa de Temer foi a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que foi aprovada essa semana pela Câmara dos Deputados. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Cruz, Renato Goerck, a medida é preocupante. “Muitas políticas voltadas aos pequenos agricultores, que respondem pela maior parte da produção rural na região, estavam atreladas ao MDA, como o crédito fundiário, por exemplo”.
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Corte de benefícios
Com os indicativos que Temer vem dando de que pretende reduzir gastos e o tamanho da máquina estatal, priorizando um modelo de desenvolvimento baseado na oferta e não na demanda, existem receios quanto à manutenção de benefícios e de programas sociais. Para o presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), Caio Baierle, uma reforma previdenciária nos moldes que vem sendo proposta pelo governo, por exemplo, pode resultar em “perda de direitos”, sobretudo para os trabalhadores do campo, que formam a base da economia local.