Maria Cristina dos Santos, de 54 anos, foi acordada por um dos filhos na madrugada do último domingo. Na ligação, um pedido desesperado para que, junto com ele, fosse até o centro de Santa Cruz para ajudar outros dois filhos, que horas antes haviam brigado no banheiro de uma casa de festas na Rua Marechal Floriano. Sem pestanejar, ela embarcou em um carro de aplicativo para o que acabou sendo o último ato da mãe corajosa e amorosa, conhecida ao longo de toda a vida por proteger a sua família.
Chegando ao local e já com a certeza dos ânimos mais calmos, tratou de chamar um motorista de aplicativo para voltar para casa acompanhada dos filhos. Só que ela não esperava que do grupo do outro lado da rua sairia o homem que atiraria contra ela e seus familiares.
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Após embarcar em uma motocicleta, dando a impressão de que iria embora, o autor dos disparos levou menos de um minuto para dar uma volta na quadra e retornar armado. Com o auxílio dos amigos, que apontaram onde estava Cristian Alan dos Santos Carvalho, de 17 anos – filho de Maria e alvo inicial do criminoso –, levantou a pistola 9 milímetros com seletor de rajadas e efetuou o primeiro dos mais de dez disparos. O tiro acertou Cristian na cabeça. Ele morreu na hora.
Desesperada e ainda achando que poderia salvar Cristian, Maria se jogou à frente da arma e também foi alvejada na cabeça. Ela morreria ali. Na sequência, o outro filho, na tentativa de conter o assassino e segurá-lo até a chegada da polícia, foi alvejado de raspão. Mesmo assim, estava conseguindo detê-lo antes de ser brutalmente agredido por amigos e amigas do criminoso, que dessa forma conseguiu fugir. Ainda em decorrência da ação, outras duas jovens, que nada tinham a ver com o fato, foram baleadas, mas sobreviveram.
O autor do crime foi capturado por agentes da 1ª DP. Contra ele, que se apresentou na delegacia na noite da última quarta-feira, havia um mandado de prisão preventiva decretado. Antes de se entregar, os policiais haviam varrido o Bairro Bom Jesus na tentativa da capturá-lo, além de irem a Porto Alegre quando uma informação apontava a presença dele na Região Metropolitana.
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Após ter ciência do mandado ao chegar na delegacia, foi encaminhado ao sistema prisional. Ele, que não teve o nome divulgado e, segundo a polícia, está envolvido com uma facção criminosa, ficou em silêncio no depoimento.
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A investigação
Liderado pela delegada Ana Luisa Aita Pippi, o inquérito foi instaurado ainda no domingo. Foi possível apurar que Cristian Alan dos Santos Carvalho e o autor tinham uma desavença anterior, mas que nunca chegara ao ponto de uma ameaça de morte.
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Naquela noite, ambos se encontraram no interior de uma casa noturna e, no banheiro, envolveram-se em uma briga. Parte dos envolvidos foi retirada do local pelos seguranças do estabelecimento. Entre eles estava o irmão de Cristian, que, preocupado com o fato, ligou para um outro irmão, que posteriormente acionou a mãe para juntos irem até o estabelecimento retirar todos em segurança.
Com o fim do evento, o grupo de Cristian, já com a família, ficou aguardando um carro de transporte por aplicativo. Enquanto isso, o grupo do autor se posicionou do outro lado da rua, dando sinais de que a briga de fato havia cessado. Porém, o criminoso embarcou na carona de uma motocicleta e voltou menos de um minuto depois atirando.
“Eles tinham essa desavença, mas no caso dos familiares do Cristian, jamais imaginaram que ia acabar em morte. Não havia ameaça de morte até então, apenas de brigar, dar soco. No dia do crime eles se desentenderam novamente, mas é algo que não justifica a frieza do autor para executar duas pessoas dessa forma. Foram desferidos mais de dez tiros em via pública, o que não atingiu só as duas vítimas”, conta a delegada.
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A arma
A Polícia Civil suspeita que o mesmo homem que deu carona para o autor fugir tenha levado a arma do crime. Os agentes trabalham na identificação. “Foi tudo muito rápido, por isso temos essa suspeita. Ele sobe na moto, dá uma volta na quadra e retorna armado. Outro ponto é que aparentemente ele perde o controle da pistola, pois passa a atirar repentinamente, atingindo outras pessoas e a parede de um imóvel na esquina da Marechal Floriano com a Tiradentes”, aponta a delegada Ana Luisa Aita Pippi, afirmando acreditar que a pistola tenha sido cedida pela facção criminosa.
Ao longo dos próximos dias, a polícia espera ouvir testemunhas do duplo homicídio, bem como os amigos do autor já identificados via imagens de câmeras de monitoramento. “Foi um trabalho intenso desde o domingo, após a notícia desse crime bárbaro que chocou a todos nós. A Polícia Civil não parou, trabalhamos de forma incessante. As forças de segurança da cidade não pararam e nem vão parar até elucidarmos por completo e fazer justiça para essa família”, ressalta.
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