Na última semana do ano, deveria ser natural refletirmos sobre a experiência do passado imediato. O que ela trouxe, para que serviu e o que veio nos mostrar. Tenho este hábito, que sei que poucos cultivam: o de me distanciar do ruído para mergulhar na observação profunda dos eventos e dos possíveis aprendizados. Como estudiosa de neurociência, sei que só nos desenvolvemos assim, não nos distraindo com o que acontece apenas no momento presente, como se a vida fosse uma tragicomédia ou como se fôssemos meros marionetes do universo.
A Covid-19 nos ensinou muito e o saldo do ano é positivo. A pandemia confrontou nosso jeito de viver, nossa mania de enrolar a vida com nossas verdades e desculpas tradicionais, que justificam a coleção de fracassos que protagonizamos nos últimos anos.
Durante 2020 vimos quem andará à frente do seu tempo, quem sabe contornar adversidades com rapidez, nutre a inteligência emocional e a criatividade, e quem não tem empatia ou responsabilidade alguma: são os novos fracassados do mundo.
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Alguns estão com a vida muito em dia e rapidamente se acomodaram ao novo cenário, que, de certa maneira, já era anunciado. Outros têm resiliência nata, e se adaptaram com rapidez aos novos modelos. A maioria, que em breve certamente vai se tornar minoria, revelou graves patologias sociais, entre elas o vitimismo, a falta de empatia, baixa responsabilidade com a vida, intolerância, ignorância e estupidez, quando se trata de renunciar a desejos e prazeres em prol do bem de muitos.
Não temos mais como nos esconder, todas as nossas virtudes e defeitos estarão na mesa transparente do século 21, e precisaremos trabalhar para nos encaixar na nova cultura do mundo. Ter coisas deixa de ser o mais importante, viver em torno do próprio umbigo deixa de ser o modo padrão de vida, e todos os dias teremos que demonstrar alto compromisso com a restauração do planeta e da vida em sociedade.
Tempo livre será a moeda mais importante de 2021. Temos poder de escolha, e ele exige mudanças no estilo de vida. Mudou a forma como nos alimentamos, vivemos e gastamos, os formatos de trabalho, viagem, festas, e tudo que diz respeito à possibilidade de vida para 10 bilhões de pessoas exige que sejamos diferentes.
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Podemos viver de forma abundante e minimalista, estar mais perto da natureza, da família, da comida natural. Temos que pagar o preço de nossas escolhas e nos tornarmos capazes de fazer renúncias.
Entender qual é a sua contribuição pessoal para a vida comunitária e planetária é a toada do século 21. É impossível voltar ao que era antes, e seria péssimo. Boas-vindas ao mundo novo.
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