Nosso professor era um homem sério. Geralmente afável, mas sério. Seríssimo, na verdade. Não alterava a voz, não contava piadas, não permitia nem ousava intimidades. A turma, pelo contrário, era medonha. Em meio a um e outro mais compenetrado, ou mais maduro, reinava uma gurizada recém-saída do nível médio. Talvez por isso, e porque os tempos já eram outros, alguns tinham dificuldade para se concentrar. Muitas conversas paralelas, burburinho, um certo desinteresse pelo conteúdo, e o hábito de sair da sala bem antes do intervalo para retornar bem depois. O mestre, claro, não gostava. Chamava a atenção e o grupo ouvia para, logo a seguir, começar tudo de novo.

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Até que um dia, o pessoal no vaivém rotineiro entre a classe e o bar da faculdade, aquele senhor de cabelos brancos e aparência severa parou de falar. Giz na mão um pouco trêmula, olhou demoradamente na direção dos seus alunos rebeldes. Olhou, olhou e olhou. Mudo. E então, com uma voz cheia de raiva, disse:
– Eu não suporto mais vocês. Para mim, chega!

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E se foi embora. Parecia, além de furioso, muito cansado.

Levamos um choque. Estávamos quase no fim do semestre. Como seria? Conseguiriam outro para substituí-lo? Nos dariam notas ao revés e tudo bem? Teríamos que fazer a disciplina novamente? A coordenação entrou em cena nos dias seguintes e os colegas não pouparam críticas aos agitados. O homem, porém, não arredava o pé. Esses jovens não têm compostura para estar na universidade, dizia. Panos quentes daqui e dali, um pedido de desculpas coletivo, reiteradas promessas de bom comportamento e, por fim, sem esconder a mágoa, ele concluiu a matéria conosco.

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Nesta semana pensei no professor. O que diria ele se estivesse vivo, diante da realidade educacional? Salários incompatíveis, falta de reconhecimento, casos frequentes de desrespeito, estresse e, mais recentemente, vidas em risco. Isso, em resumo.

Podem dizer que os casos de agressões em escolas, como o assassinato de uma professora por um estudante de 13 anos na segunda-feira, são episódios isolados. Podem dizer que o fenômeno extrapola classe social e ocorre também em outros países. Ou que a constante relação entre os criminosos e o pensamento neonazista evidencia que tais fatos têm origem fora dos estabelecimentos. Sim. Mas é na escola que isso está eclodindo. Nas nossas escolas. Este lugar onde tudo deságua, a família desestruturada, os pais sem noção, a violência das ruas e a adolescência sem futuro.

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Se os problemas que a sociedade tem transferido para a escola resultassem no máximo em jovens um pouco indisciplinados, seria tranquilizador. Mas não é.

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