Eu passei 2023 inteiro estudando sobre a cobertura de desastres para meu trabalho de conclusão de curso. Um documento de mais de 100 páginas dialogando sobre os conceitos de mudanças climáticas, áreas de risco, jornalismo e cobertura midiática não me preparou para o que estava por vir. Em nenhuma das minhas páginas, escrevi sobre a insuficiência que o jornalista pode sentir em meio à enxurrada de informações. A verdade é que quanto mais matérias eu publicava, sentia aumentar a necessidade de explorar os temas, de fazer mais. Tentamos utilizar o jornalismo em prol da sociedade, mas nesse caso em questão, todo esforço e trabalho não pareceram suficientes em meio a tanto sofrimento. E nunca vão ser.
Isso porque além de jornalistas, também somos humanos – embora, às vezes, nós mesmos esquecemos disso. Nosso sentimento de contribuir é além de como realmente podemos. A cada emissão de alerta, eu me questionava como poderia torná-lo visível aos moradores dos locais: capa do site? Redes sociais? E quem não tem internet, será que escuta a rádio? Mas a verdade é que uma matéria nunca vai resumir a dor de uma pessoa ou fazer o trabalho de um órgão competente. Estamos limitados a salvar vidas pela informação.
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Uma vez, um sábio me disse que só processamos as informações depois de um tempo após os acontecimentos. Talvez este texto seja o início do processamento do que aconteceu, de alguém que teve sorte de poder focar a profissão, já que os familiares e a própria casa estavam bem em meio ao caos. E que teve muita sorte (mesmo), porque se mudou para Santa Cruz cerca de 15 dias antes de o Guaíba inundar o antigo prédio onde morava, em Porto Alegre.
Falando nisso, ao longo dessa cobertura, também lembrei de outra história. Em setembro de 2023, o Guaíba chegou a 3m18 e alagou o Cais Mauá. Eu, moradora da cidade há menos de um ano, pedi folga do trabalho e fugi para minha cidade natal, Santa Maria. Nessa cobertura, me peguei pensando no que um vizinho me disse aquele dia: “Com essas mudanças climáticas, um dia vai subir. Mas vai demorar ainda, não chega aqui no prédio tão cedo.” Não demorou um ano.
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Pensando nisso, reafirmo o que aprendi como pesquisadora do tema: desastres vão seguir acontecendo. Então, espero que paremos de enxergar eventos como únicos, atípicos e que estão em um futuro distante. “Isso nunca aconteceu antes” e a surpresa por um evento extremo infelizmente já deixa de ser notícia.
As soluções para esse tipo de acontecimentos sempre parecem inviáveis – e por isso, me aparentam muito pouco cogitadas ou pensadas. Depois de tanta tragédia, que haja busca por soluções, e que todos nós – sociedade e jornalismo – tentemos ajudar a pensá-las, seja por pequenas ações como conversas informais que não deixem o assunto cair no esquecimento ou por denúncias de irregularidades. E, acima de tudo, cuidem dos seus.
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