Sou maníaco pelo jornal impresso porque posso sublinhar as partes mais importantes, apor observações ao pé da página, destacar trechos. Leio tudo: do expediente – onde consta o nome da empresa proprietária, com endereço e telefone, dos responsáveis pela publicação, etc. – até os editais. Ali residem segredos que muitas vezes
figuram em escândalos de órgãos públicos, através de licitações fraudulentas.
Nesta semana, li um edital da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que dizia respeito ao acréscimo de mais um dígito no número dos celulares. A mudança, que abrange Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, começa a vigorar em 6 de novembro. Resta saber se o usuário será obrigado a modificar todos os nomes de sua agenda ou se existe um dispositivo para a mudança automática.
Lembro com nitidez da ocasião da compra do meu primeiro celular. Minha mulher, Cármen, estava no fim da gravidez do nosso primeiro filho e decretou: – É inadmissível ter um recémnascido e não ter telefone em casa. Dá um jeito! – “sugeriu”.
Publicidade
Aqui se impõe esclarecer aos mais jovens que naquela época, em 1994, ter um telefone fixo era sinal de status. Algumas pessoas possuíam várias linhas telefônicas (telefone fixo) e viviam de aluguel. O valor se assemelha à valorização atual de um box de estacionamento. Permaneci por anos na fila da finada Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), sem sucesso.
Para comprar o primeiro aparelho celular, fiquei quatro horas numa fila. O modelo, um Motorolla PT-550, pesava uns três quilos. Uma bateria, para ser recarregada, precisava ficar um dia inteiro ligada à tomada. Antes era preciso descarregar completamente o equipamento, sob pena de ficar “viciada”, ou seja, ter sua capacidade reduzida.
As contas mensais do celular eram onerosas porque eu pagava inclusive as ligações que recebia. A primeira vez que o aparelho tocou em público, numa loja, minha esposa ficou vexada, exilando-se no banheiro para atender. Virou atração turística porque era uma novidade!
Publicidade
Duas semanas depois de comprar o celular, fui surpreendido com um bilhete da CRT na caixa postal. “Ligue para o número tal a fim de agendarmos a instalação de seu telefone fixo.”
Diante das ameaças da dona Cármen, minha filha Laura – hoje com 22 anos – estava protegida por dois telefones nos primeiros meses de vida. Hoje, o modelo fixo serve apenas para driblar os pobres operadores de telemarketing…
Publicidade