A partir dos anos 50 do século passado, uma série de novos comportamentos e procedimentos passaram a pautar a cultura ocidental. Os estudiosos do então novo quadro apontam algumas marcas desse tempo, destacando causas e consequências que acabaram afetando muito ou pouco cada um de nós. Muitas dessas mudanças entraram em nossas casas e comunidades, desembocando em atitudes que, antes consideradas valiosas, foram sendo substituídas por outros valores, cuja relevância precisa sempre ser relativizada e depende de cada um.
Uma das grandes transformações decorreu do expressivo desenvolvimento dos meios de comunicação social, com destaque para a televisão. No início raros, aos poucos os aparelhos se tornaram objetos comuns dentro das casas, provocando marcantes alterações comportamentais. Ouso cogitar que a televisão tirou as pessoas do convívio com os vizinhos, com os amigos, que, antes partilhando um mate nas calçadas, depois se recolheram às suas casas, cada um cuidando da sua vida. A televisão fragmentou as relações sociais. Ali na calçada era tecida a vida da rua, do bairro, enfim, a história de cada comunidade. Um pouco mais adiante, com aparelhos espalhados pela casa, a própria convivência familiar se estilhaçou.
Os meios de comunicação social multiplicaram enormemente as informações e, de forma acentuada, passaram a pautar a visão de mundo das pessoas, reduzindo em muito as formas particulares de ver os fatos e a sua compreensão. Muitas pessoas, sem discernimento ou análise crítica, aceitam pacificamente o pacote, bebem apenas ali, absorvendo e repassando informações frágeis, unilaterais, quando não eivadas de mentiras e falsidades intencionais. As informações têm o poder de teleguiar as pessoas, desenhar seu modo de pensar e de agir.
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Outra marca da transformação acentuou o desenvolvimento da sociedade de consumo. Objetos antes feitos para durar uma vida inteira foram substituídos por outros, que já nasceram com o chipe da data final. Trocar constantemente tornou-se necessidade inadiável para muitos consumidores. Estes são lembrados a cada momento de que já existem sapatos mais bonitos e confortáveis, que há camisas mais charmosas, que há carros com muito mais tecnologia embarcada. É preciso trocar, consumir para estar na rota implacável da moda, da modernidade. A pandemia, a propósito, nos fez saber que precisamos muito menos do que sempre julgávamos imprescindível.
O progresso é uma imposição natural. É inquestionável que traz muito mais conforto, mais opções de trabalho, de lazer, e exige nossa atualização constante para podermos marchar no compasso da humanidade. Por outro lado, promove a substituição de valores nem sempre com a necessária avaliação. Muitas vezes, gera o egocentrismo, cada um cuidando da sua vida.
Lembro, por exemplo, que, na minha infância, quando alguém carneava um porco, um pernil, uma paleta, um assado era enviado ao vizinho, que o retribuía em momento posterior, isso sem nunca passar por uma balança. Quando chegou o freezer, esse exercício de partilha se perdeu, o porco passou a ser reserva exclusiva de quem o abateu. Perdia-se aos poucos o ensinamento bíblico de que “todos repartiam o pão, não havendo necessitados entre eles.”
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O ritmo acelerado, nas últimas décadas, da ciência, da tecnologia, das mudanças comportamentais, fez surgir uma cultura multifacetada, embora nem tão poderosa, pois ainda balança nervosamente face a um vírus quase invisível.
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