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ROSE ROMERO

O “pé de planta”

Temos uma árvore grande e frondosa. Viemos para cá na pandemia e em três anos não conseguimos descobrir seu nome. Logo nos primeiros dias, o senhor que limpava o mato nos alertou:
– É uma nativa, não pode cortar sem licença.
– Claro, nem queremos cortar. Só não sabemos o nome. O senhor sabe?
– Vizinha, eu conheço. Mas o nome não sei.
Uns meses depois, o rapaz que se encarregava de pequenos consertos e mora no interior afirmou quase o mesmo: “Eu conheço. Mas não lembro o nome”.
O tempo passou. Nossa árvore seguiu cheia de vida. E de folhas. E pássaros. E insetos e ervas. Não parece ter uma madeira muito forte. Nas noites de tempestade, perde galhos enormes que acabam virando lenha. Ainda assim, resiste e rebrota.
No início deste ano uma amiga ligada nos assuntos verdes veio nos visitar. “Lica, olha aquela árvore. Diz o que é”.
– É um “pé de planta”.
– Como? Um pé de quê?
– Pé de planta. Era assim que diziam lá no interior quando não sabiam do que se tratava.

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Se nem a Lica sabe… Apelo para a tecnologia. Baixo no celular um aplicativo que identifica as espécies. Nada. Testo outro aplicativo. Nada. Um sequer chega a algum resultado. O outro sugere duas ou três possibilidades improváveis e pede desculpas por não dar uma resposta satisfatória. É de rir.
O nome do “pé de planta” vira questão de honra. Ângela avisa que na próxima visita a Santa Cruz trará o recém-comprado Guia de Dendrologia. Desta vez, penso, vamos conseguir. No último fim de semana nos reunimos aqui em casa. Ocorre que a Ângela, atarefada com a organização de um superjantar, esqueceu em Porto Alegre o manual que nos levaria à verdade. No domingo, um amigo agrônomo passa para dar um oi. Luiza, esperançosa, mostra a árvore.
– Bah, não sei.

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À noite, Maurício lamenta: “E continuamos sem saber”. Até que encontro um livro. Mais de mil páginas com muitas fotos. Uma a uma, vou comparando as imagens e nossa árvore, os detalhes das folhas, as cores. Pelo WhatsApp, as amigas me ajudam.
– Açoita-cavalo não é, Rose. Eu conheço bem açoita-cavalo e não é assim, assegura a Ângela.
Já é madrugada quando damos o veredito. O “pé de planta” é um tanheiro. E foi preciso um livro para descobrir. Um livro, ora pois.
(Acontece que sou teimosa. E curiosa. E amo a natureza. E para além de todas as grandes causas, são as pequenas que me comovem. São as pequenas que me humanizam e me fazem feliz. Elas, e minhas amigas maravilhosas.)

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