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O pastor e o lobo

Era uma vez um jovem pastor que, para chamar a atenção da aldeia, gritava “olha o lobo” toda vez que tinha a oportunidade. Talvez por medo ou para chamar a atenção, o fato é que ele sistematicamente bradava que o perigo estava sempre por perto, mas esse perigo não aparecia. Até que um dia o lobo apareceu. Porém, de tanto mentir e enrolar, cada vez menos as pessoas na aldeia acreditavam. E assim toda a aldeia perdeu suas ovelhas, devoradas pelo lobo.

Desde meados de março, ainda no verão, ouvimos a mesma estória: “estamos a duas semanas do colapso”. O governador e suas tabelinhas junto com vários prefeitos, gabinetes e secretários municipais de Saúde buscam trancar pessoas saudáveis, impedir que pequenos negócios que geram empregos e sustento para milhares de pessoas abram, castigando trabalhadores informais e autônomos, mantendo um povo já sofrido sob constante terror e pressão psicológica. Tudo isso com a justificativa de salvar vidas. Alegam que a subsistência das pessoas vale menos que a vida.

Este governador, que grita todas as semanas há meses “olha o lobo chegando em duas semanas”, já se elegeu sob a mentira de colocar os salários do funcionalismo e a economia do RS em dia. Ou seja, não é de hoje que ele vem enganando a aldeia. Talvez chamado a atenção para o “lobo”, a aldeia não perceba o retrocesso econômico que já vinha acontecendo pelas falsas promessas e inaptidão do então candidato.

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Dentro de alguns dias, todo o Estado do RS estará na bandeira vermelha, independentemente do que se faça. E não será necessariamente por causa da Covid. Na aquarela de cores do governador, a disponibilidade de leitos de UTI é utilizada para justificar as arbitrariedades dos decretos. Oras, agora estamos no inverno. Desde que comecei na medicina, em 1994, em todo o inverno no RS há falta de leitos de UTI. Todos. Então, é óbvio que teremos UTIs lotadas. Por acidentes, cirurgias, infartos, derrames e tantas outras necessidades médicas que continuam existindo.

Tais medidas de restrição serão, talvez, necessárias daqui a algumas semanas. Isso é fato. Mas pelas precoces e desproporcionais medidas dos decretos estaduais e municipal, a aldeia está cansada, empobrecida e desacreditada. E essas medidas ainda conseguiram empurrar o pior da pandemia para o pior do inverno, algo que era totalmente previsto por muitos agentes públicos, porém ignorados e taxados de ignorantes pelos soberbos gestores e seus sovietes.

Torço para que a biologia nos salve. Sabidamente, é um vírus de baixa letalidade e que, muito possivelmente, não infecta a todos. Espero que a vacina da gripe seja da mesma cepa viral deste ano, poupando muitos leitos de UTI. Há medicamentos que podem ser utilizados para minimizar os riscos. Sugiro aos aldeões que tomem os possíveis cuidados. Quando se tem falsos pastores, temos de rezar para o lobo não estar faminto. Pois ninguém acredita num mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade.

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