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O outro lado das viagens

Toda vez que viajo estranho minha imersão compulsória em três situações: no check-in no aeroporto; no avião antes da partida e, já no hotel, na hora do café da manhã. Nesses momentos a gente vê coisas para lá de estranhas ao nosso dia a dia. Câmeras em mim, com foco num banco do aeroporto.

Meu Deus, o que é um aeroporto às 5 da manhã! É visível que algumas pessoas caíram da cama e saíram, em desabalada carreira, sem trocar de roupa e, por conseguinte, sem banho, em direção ao aeroporto. Claro que, como é da filosofia brasileira, os pontuais são relegados ao inferno e os retardatários e relapsos têm preferência. Os alto-falantes gritam desesperados pelos tardinheiros. Os passageiros já no avião, esperando que os atrasados embarquem, o que pune e atinge os “certinhos”.

Mas voltemos ao portão de embarque. Todo mundo sabe que não pode levar consigo faca, tesoura, etc. A fila para. A moça passa no detector, que dá o alarme. Mais um incidente que poderia ter sido evitado. 

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Todo mundo sentadinho no avião e antes de ele começar a corrida para alçar vôo, o senhor Jones, que ficou uma hora no saguão, só agora sentiu vontade de ir ao banheiro.

Na viagem, muitas pessoas, na falta de espelhos para mirar suas maravilhosas e incomparáveis belezas, usam esse aparelho vital para o prosseguimento da vida, o celular, para suas indispensáveis selfies, pena de sofrerem uma apoplexia. E dê-lhe selfies, com direito a mil caras e bocas, sorrisos congelados que chegam às raias
da idiotice. Fico matutando: para que e para quem tantas fotos?

O avião está pousando e o comandante implora que todos fiquem sentados até ele estacionar. Nada feito, mesmo o pessoal sabendo que não há como subir ao pódio e ser o primeiro a sair do avião. Em seguida, a correria para ser o primeiro a pegar sua mala. Na saída, muitos vão certificando, em altos berros, ao celular, que amam seus interlocutores, comentam como foi o dia anterior, para que todos nós saibamos de sua inefável e indispensável história.

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Já no local de recolhimento das bagagens, erram de esteira e se desesperam por não localizarem sua mala. Claro que não tiveram o dificílimo tirocínio de saberem o número de seu vôo e em qual esteira está.

Corta para o refeitório do hotel.

As portas dos elevadores se abrem e dezenas de famintos, que provavelmente há 30 dias não se alimentam, irrompem qual um arroio durante a enchente e vão em busca de uma mesa. Se atracam no bufê enchendo o prato até cerca de 30 centímetros, para deixar quase tudo intocado ao final. Por que estranho isso? Será que meus pais erraram na minha educação?

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