Você há de convir comigo: se parar para pensar, são várias as coisas que tornam você quem você é. Não tem como “resumir” uma pessoa por uma característica, um gosto, uma cor de cabelo ou de pele. Nem mesmo por coisas ainda mais particulares, como seu rosto ou digital. É claro que tem como te identificar por várias dessas coisas, mas elas são realmente “quem você é”?
Desde sempre, tive muita paixão pelo meu nome. Tão meu, combina tanto comigo (pelo menos eu sempre achei). Tem até aquela historinha, sabe? “Meu nome era para ser tal, mas por uma luz divina meus pais decidiram que seria esse.” Eu também tenho uma história assim, é claro. Mas ela nem é o foco desse texto. Isso aqui é sobre identidade.
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Ah, essa palavrinha complexa. O nome, justamente, sempre foi uma questão de identidade – e não de documento. Veja bem: eu fui registrada Naiara Beatriz Silveira, com nome composto e sobrenome do pai. Apesar de questionar por muito tempo a ausência do sobrenome de mamãe – Santos –, acostumei com ele. Sonoridade e tudo o mais.
Há alguns meses, no entanto, essa história teve uma reviravolta. Há anos brincava com a ideia de adotar o sobrenome da minha então namorada quando casássemos, mas nunca tinha parado para realmente pensar a respeito. No dia que retirei os papéis do casório, a dúvida bateu.
Tem gente que tem essa questão bem resolvida, seja um positivo ou um negativo para mudar de nome, pelos mais diferentes motivos. Para mim, era uma encruzilhada. De um lado, minha identidade, o nome com o qual meus pais me registraram, sobrenome de família. Também havia a consciência sobre as tradições ultrapassadas do patriarcado e tudo mais.
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Do outro, a representação de união, a força de poder adotar o sobrenome da minha esposa – e a ruptura que isso causa na heteronormatividade da prática. Duas mulheres unidas por um casamento e sobrenome. Tão válido quanto qualquer outro matrimônio.
A ideia de pertencer a outra pessoa nunca me pareceu certa. Mas mudar um pouco a perspectiva e entender essa mudança de nome como a criação de um laço como família me instigou. Saber que eu poderia carregar o sobrenome dela junto ao meu e compartilharíamos isso despertou a eterna romântica em mim. Piegas, eu sei.
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Já nem preciso dizer qual foi a minha decisão, né? Mesmo incerta sobre como me sentiria depois, quis mudar. Me permiti o direito de escolher e optei pela importância de levar um pouco dela comigo em algo tão forte, como meu nome.
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Um mês depois de assinar meu novo nome pela primeira vez, completado neste sábado, posso dizer de coração leve que tomei a decisão certa. Contrariando os meus receios, não me tornei menos mulher ou menos feminista por trocar de sobrenome. Também não achei tão burocrática assim a alteração, viu? Esperava bem pior pelo que já tinha ouvido sobre a papelada toda.
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Assim, me tornei Naiara Beatriz Silveira Brasil – e não, não tem nada de político nisso. É mais longo e não tão sonoro quanto antes, eu sei. Mas sabe que eu curti? Me fez perceber que não, não sou só o meu nome, não tem como me resumir a uma só coisa. E mesmo que desse, estaria de boa. Sigo apaixonada pelo meu nome e pela minha identidade. Afinal, nada tão nosso quanto o nome da gente.
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