Sou proveniente de famílias para as quais o Natal era o cume do ano todo. Minhas avós, minha mãe, se esmeravam em preparar o presépio com um mês de antecedência. Tiravam os enfeites dos baús centenários e erguiam esse pequenino mundo tendo ao centro o menino Jesus. O pinheirinho era natural.
O Natal era comemorado dia 25 mesmo, e não tinha nada dessas festas pantagruélicas que hoje se fazem dia 24.
Minhas irmãs, meus pais e eu íamos à missa bem cedo em Santa Cruz e, após, embarcávamos na caminhonete Dodge 1951, rumando a Boa Vista. Aquele fervor religioso deu lugar a outras atrações. O Natal passou a ser uma “festa” a mais das tantas que existem. O Natal se banalizou, assim como o carnaval, os aniversários, os casamentos, as formaturas. Aí entro no tormentoso assunto das “datas”.
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Dia dos Pais: há que tirar pessoas em provecta idade de suas casas, entrar nas filas enormes dos restaurantes, os pobres anciãos tendo uma hipoglicemia, tudo porque seus filhos e netos têm que lhes demonstrar, de modo tonitruante, “seu amor”.
Dia das Mães, mais um momento de correr para lá e para cá catando missangas e tarecos, para evidenciar sua afeição. Voltemos ao Natal. Me expliquem, por favor, à saúde do que fogos e rojões? Que coisa mais enlouquecedora. Pelo que li nas escrituras, Maria e José eram pobres e seu filho nasceu numa manjedoura. Mas agora há que consultar os oráculos da moda para se saber qual a cor da roupa que melhor se coaduna para esse momento chique. Até as joias e adornos têm que ser de ouro legítimo.
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Não cessa aí a ritualística profana. É fundamental comprar presentes e mais presentes que as pessoas vão abrindo freneticamente, olhando num átimo e abrindo mais e mais pacotes. Mais: urge que se corra para o “Facebook” ou “Instagram” e se divulgue, sem tardança, as “selfies” e demais fotos que comprovem a todos quão se é feliz… Não basta ser feliz, isso assim não adianta.
É vital demonstrar, ruidosamente, nosso êxtase aos outros. Ao fundo ruge uma “música” que elege a percussão como prioridade (Jesus, alegria dos homens, de Bach, nem pensar). Sem querer ser irônico demais, mas o sendo assumidamente, creio que os Natais de presépios, de lindas e mansas canções, das celebrações litúrgicas eram mais charmosos, na humildade das decorações, na crença real de que se comemorava o surgimento de um Messias.
E o aniversariante? O que deu início à Cristandade? (Peço licença aos leitores para descansar durante um tempo.)
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