Na última segunda-feira, 8, o gaúcho Ricardo Lugris, natural de Bagé, mas há 24 anos radicado na França, onde reside em Chantilly, fez uma passagem rápida por Santa Cruz do Sul. Chegou, vindo de sua terra natal, por volta do meio-dia, reencontrou e abraçou familiares, e já no meio da tarde seguiu rumo a Porto Alegre. Em Santa Cruz, entre o almoço e um café, teve tempo de autografar alguns exemplares de seu novo livro, o segundo, que está lançando pela editora paulista Europa.
E o título não poderia ser mais a propósito para um contumaz viajante: Montar e partir. O “montar”, no caso, é sobre uma moto. Se Lugris, aos 63 anos, veja só, ganhou a vida vendendo aviões (para a Embraer), sua grande fixação é percorrer o mundo em todas as direções, ao rés do chão, sob o banco de uma motocicleta. Mais exatamente, de sua BMW R 1200 GSA, não raro levando na garupa a sua esposa, Graça, que é natural de Passo Fundo, e com quem tem duas filhas, Paloma, 38, e Luana, 37 – esta já lhes deu uma neta, Olivia.
Na passagem por Santa Cruz, Lugris igualmente concedeu entrevista ao comunicador Rosemar Santos, no programa “Radar”, da Rádio Gazeta FM 107,9. Essa conversa, aliás, já estava alinhavada há mais tempo, de quando ainda estava na França. E a pressa em seguir viagem a Porto Alegre tinha razão e motivo: no dia seguinte, na terça, às 16 horas, estava autografando seu livro na 67ª Feira do Livro de Porto Alegre. Antes disso, concedeu entrevistas para mídias na capital, e já na quinta viajou a São Paulo, para mais lançamentos. Neste domingo seguiu novamente em viagem de retorno à França.
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Mas por que, afinal, a passagem de Lugris por Santa Cruz? Para rever familiares, e para reencontrar a paisagem da cidade na qual costumava passar muitas temporadas de férias, na infância e na adolescência. Tudo porque é a terra em que se fixaram antepassados. Seu avô materno, Ricardo Nuñes Calvo, nos anos 50 veio da Espanha, ao lado da esposa Maria, para se fixar em Santa Cruz, onde atuou junto à Fundição Schreiner. Com o casal vieram as cinco filhas, das quais Felicidad, já com 18 anos, viria a ser a mãe de Ricardo, nascido de seu casamento com José Alfonso Lugris (tiveram mais duas filhas e um filho).
Os filhos chegaram quando o casal Lugris já estava estabelecido em Bagé, e posteriormente a família passou a ter vínculos com Pelotas, para onde o avô de Ricardo por parte de pai havia se mudado. Mas o ramo materno e duas de suas tias (Rosa, casada com Gilberto Schlosser, e Pilly Calvin, conhecida por sua carreira como atriz) permaneceram em Santa Cruz, onde os avós inclusive estão sepultados. Por essa razão, ao longo dos anos, Ricardo manteve contato regular com a cidade, na qual passava as férias e vinha para visitar os parentes, entre os quais vários primos. Seu pai faleceu em 2019, e a mãe segue residindo em Bagé.
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Ricardo Lugris depois cursou Economia e Letras em Caxias do Sul, e ali conheceu sua esposa. Em 1983 ingressou na Embraer, na qual atuou por 32 anos, como diretor de vendas, desde 1996 na filial europeia da empresa, primeiro em Paris e depois radicado em Chantily, a cerca de 45 quilômetros da capital, onde reside ainda hoje. Deixou a empresa em 2015, momento em que empreendeu a sua primeira longa jornada, indo de moto de Paris a Singapura (o que rendeu seu primeiro livro, Tempo em equilíbrio).
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Tem gente que atravessa o mundo viajando de avião. Ricardo Lugris escolheu meio de locomoção diferente: a motocicleta. Sobre ela, percorreu mais de 700 mil quilômetros, cruzando algumas das paisagens mais instigantes da Terra. Em Montar e partir, seu novo livro, narra jornada cumprida em 2019, ainda antes do advento da pandemia, rumo ao Cáucaso, região limítrofe entre a Europa e a Ásia.
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Se Lugris narra longo périplo em moto, o prefácio da obra é assinado por ninguém menos do que o aviador francês Gérard Moss, que em 2001 circumnavegou o planeta em um monomotor. Antes de sair em viagem ao redor do mundo, por coincidência Moss fez preparação justamente no aeroclube de Santa Cruz do Sul.
Lugris já havia publicado Tempo em equilíbrio: entre Paris e Singapura, este em formato de e-book, com 275 páginas, no qual descreve a jornada de 35 mil quilômetros da Europa em direção à Ásia. Mas nada se compara, claro, à aventura mais recente, um encontro pessoal com algumas das paisagens mais caras à humanidade, a exemplo dos Bálcãs, na antiga Iugoslávia; da Romênia; e do deserto de Karakum, no Turcomenistão.
O relato é vívido e intenso, recheado de reminiscências, que transportam o leitor para a estrada e avivam a atmosfera dos lugares, em aromas, sonoridades, silêncios, horizontes. E, claro, as conversas e a interação com os habitantes, em cidades míticas, a exemplo de Samarcanda. Ao final do volume, um acervo generoso de fotos vivifica para o leitor as paisagens, os percursos e alguns horizontes que o motociclista Ricardo Lugris, esse que vinha passar as férias em Santa Cruz, viu (e certamente voltará a visitar) nos mais distantes recantos do planeta.
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