Não é comum que um indivíduo agregue seu nome a uma igreja ou a uma comunidade religiosa, ainda mais quando esta passa a ter alcance global. Pois foi isso o que aconteceu com o monge alemão Martinho Lutero, nascido no dia 10 de novembro de 1483, em Eisleben. Inconformado com o inescrupuloso comércio que cercava a exploração da crença por parte da Igreja Católica, isso em seu tempo, no início do século XVI, propôs uma mudança de postura. Criticou em especial a venda de indulgências, ou de cadeiras no céu, com a crença religiosa sendo explorada como mero negócio, e defendeu que a fé devia vir acima de tudo, centrada no Evangelho de Cristo.
No dia 31 de outubro de 1517, Lutero tornou público seu protesto com a afixação de 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. O gesto naturalmente não foi bem recebido pelas autoridades religiosas, mas passou a angariar cada vez mais simpatizantes, entre eles líderes regionais. Isso não o poupou de uma bula papal de excomunhão, lançada em 1521.
No entanto, suas ideias e a proposta de uma “reforma” na atuação da igreja, que deveria estar centrada nos ensinamentos de Cristo, sem intermediários, impôs-se a ponto de promover um redirecionamento do cristianismo. O chamado movimento protestante, que assumiu ainda a feição de outras correntes, como a de Calvino, nos anos seguintes acabou obrigando a Igreja Católica a vigoroso esforço de Contra-Reforma. Mas o dia 31 de outubro de 1517, da divulgação das teses de Lutero, passou a ser lembrado como data de uma guinada no universo da espiritualidade.
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Ao longo de 500 anos desde o início da Reforma, hoje comemorados, igrejas luteranas difundiram-se pelo mundo. No Brasil, chegaram com as primeiras famílias de imigrantes alemães, na segunda década do século XIX. Na medida em que, a partir da ocupação do Sul do País, descendentes migravam para novas regiões, rumo ao Centro-Oeste e ao Norte, as igrejas evangélicas luteranas passaram a acompanhar esse movimento e hoje estão presentes em centenas de cidades, ao lado das católicas. Mais recentemente, a liturgia de católicos e luteranos, apoiada na Bíblia, cada vez mais se aproxima, num saudável impulso de ecumenismo, de união de forças por um mundo mais justo, solidário e de aceitação mútua.
Nesses 500 anos de Reforma, um dos gestos mais revolucionários de Lutero se salienta. Ele defendia que os fiéis deviam ter o direito de ler a Bíblia e buscar entender os ensinamentos de Cristo por conta própria. Em sua época, os textos sagrados eram oferecidos somente em latim, língua de domínio exclusivo do clero, que assim “interpretava” o conteúdo para o povo. No período em que esteve recluso no castelo de Wartburg, em Eisenach, próximo a Weimar, Lutero dedicou-se a traduzir a Bíblia para o alemão, e com isso passou a torná-la acessível para todos, o que talvez tenha sido tão revolucionário quanto a própria reforma por ele proposta.
Hoje, é rara a casa de fiéis de igrejas cristãs em que uma Bíblia não esteja presente. Nem sempre foi assim. Esse também foi um feito protagonizado por Lutero. Ele faleceu em 18 de fevereiro de 1546, aos 63 anos, mas suas marcas permanecerão para sempre no contexto da religiosidade.
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