O meu, o seu, o nosso idoso

Um dos aspectos sociais mais marcantes que estamos tendo a oportunidade de presenciar e (con)viver, atualmente, diz respeito à longevidade humana. Graças aos cuidados preventivos, consumo regrado de alimentos e bebidas, e, lógico, à evolução da medicina.

Mas alcançar expressiva idade e com plena saúde é privilégio de poucos. A idade avançada ainda é sinônimo de problemas físicos e mentais, e, consequentemente, de dificuldades na convivência familiar e social.

Nesse sentido, gostaria de me referir a um ponto costumeiramente desdenhado e esquecido. A questão do cuidador familiar, isto é, o cuidador não profissional. O cuidador por afinidade de parentesco, a exemplo de irmãos, filhos e netos, principalmente.

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Quem se preocupa com o seu idoso? Quem cuida do seu idoso? Qual o ônus pessoal do cuidador presente? Afinal, regra geral, alguém está na companhia do idoso. Mas é frequente a omissão familiar na necessidade da atenção (com)partilhada.

Mesmo no caso daquele que tenha a colaboração de cuidador profissional, o familiar responsável e rotineiramente presente sofre uma desgastante carga emocional, na proporção das dificuldades e necessidades impostas por seu idoso.

Na verdade, sofre um duplo desgaste emocional. Na proporção da omissão daqueles familiares que deveriam – por razões éticas, de responsabilidade e de solidariedade – também se fazer presentes nos cuidados do seu idoso.

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O familiar e responsável presente tem privações de lazer, de convivência com seu cônjuge, filhos e amigos. E perturbações emocionais que atrapalham seu trabalho e a convivência profissional. Há casos em que nem casamentos resistem!

Posta a situação de modo verdadeiro, entre duas realidades opostas, ainda que devessem ter a mesma motivação ética – a de cuidar de alguém –, resultam indagações de natureza filosóficoexistencial.

De filho para filho, de irmão para irmão, enfim, de familiar para familiar, por exemplo, haverá alguém mais responsável? E ainda que assim fosse, não haveria de se fazer presente, no mínimo, um declarado e renovado grau de solidariedade, participação e colaboração dos demais?

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Mas, e se assim não fosse, como na maior parte dos casos não o é, o evidente comprometimento de um e a reiterada ausência de outro não revelam e significam algo cruel, quase perverso?

Em resumo, esse típico desencontro acerca da responsabilidade filial e humanitária tem gerado desavenças familiares. Às vezes, irreversíveis. E nem falei em divisão das respectivas despesas financeiras!

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