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LIVRO/LANÇAMENTO

O mestre do policial

Tailor Diniz é o principal nome da literatura policial no Estado

Filão literário com grandes expoentes e altas vendagens mundo afora, os romances investigativos, de suspense ou policiais curiosamente não têm, no Rio Grande do Sul, uma mobilização de autores similar à de outras nações, ou até mesmo de alguns expoentes nacionais, a exemplo de Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Entre os gaúchos, o escritor mais identificado com esse gênero é o porto-alegrense Tailor Diniz (numa vertente que também já inspirou, entre outros, José Clemente Pozenato, em O caso do martelo, O caso do e-mail e O caso do loteamento clandestino; e Nei Lisboa, em Um morto pula a janela). Entre cerca de 20 livros de sua produção, a ampla maioria é de narrativas de suspense ou investigação, em geral relacionada a algum crime, e muitas das histórias estão ambientadas em Porto Alegre ou em outras localidades do interior do Estado.

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Fiel a esse formato de texto, cativou legiões de fãs e também já foi finalista de diversos certames literários, com destaque para o Prêmio Açorianos de Literatura e Prêmio da Associação Gaúcha de Escritores (Ages) para melhor livro de contos, ambos em 2007, com o volume Transversais do tempo. Além de escritor, é roteirista de cinema e de TV, com premiações em festivais como os de Gramado e Brasília.

Em 2013 lançou Crime na feira do livro. Em 2015, seu romance Em linha reta foi semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura; já em 2017 apresentou A superfície da sombra. Seguiu mantendo uma produção regular ao longo dos últimos anos. Em 2020 publicou Noturno em Punta del Diablo; no ano seguinte, Os diamantes são eternos, bem como o infantojuvenil O clube dos sobreviventes. Novelas como Mistério no centro histórico, O assassino usava batom e Noite adentro são características de seus enredos marcados por investigação e suspense.

A eles junta-se agora Os canibais da Rua do Arvoredo, no qual se inspira livremente no caso de canibalismo da década de 1860. A respeito dessa obra, Tailor Diniz concedeu entrevista exclusiva para o Magazine. Confira.

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Entrevista

Em relação às obras anteriores do senhor, na linha de policial, investigação ou suspense, o que mais diferiu no processo de elaboração no caso de Os canibais da Rua do Arvoredo? Como foi essa experiência?

Não houve nada de diferente sob ponto de vista narrativo. Há investigação e suspense no livro, que não deixa de ser um policial. O novo para mim é que escrevi a história com base num fato real, com personagens próprios e enredo próprio. Mesmo assim, não havia um compromisso de ser fiel ao original. Pude criar bastante, pois minha proposta não era simplesmente reproduzir algo real, mas recriá-lo no tempo atual. Na verdade, foi uma experiência bem divertida pegar personagens prontos, com uma boa história para ser livremente recontada.

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Como era o contato do senhor com essa história e o acontecimento real? O conhecimento vinha de leituras de obras anteriores? Destas, qual a principal referência ou influência?

Eu tive contato com a história ainda na infância, de uma forma muito vaga. Alguém contava que em Porto Alegre havia um açougueiro que fazia linguiça de carne humana. As versões variavam, às vezes era um barbeiro, em cuja barbearia as pessoas sumiam e viravam linguiça. Depois, já adulto, li duas obras sobre o caso, uma de ficção, Canibais, do David Coimbra, e O maior crime da terra, do Décio Freitas. Foram os únicos livros que li. Não sou um especialista, até porque meu livro não fala da história original, apenas se baseia nela, com total liberdade para criar.

Há uma forte conotação sexual envolvendo o casal central de seu livro (Catarina e José revividos) e na forma como lidam com suas vítimas. Existia tal elemento no caso real dos crimes da Rua do Arvoredo?

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Há algumas versões indicando que Catarina era uma mulher muito bonita, uma prostituta, que atuava nas adjacências do Theatro São Pedro. As vítimas teriam sido atraídas a partir dessa atividade dela. Mas nada é muito conclusivo. Aliás, nada é conclusivo nessa história. A minha preocupação ao escrever nunca foi com isso, se a Catarina era assim ou não. Os canibais de 1863 foram apenas o ponto de partida.

Como foi o processo de pesquisa do espaço, do ambiente? O senhor já conhecia bem esse espaço urbano onde a história se passa?

Eu morei por alguns anos a duas quadras da casa onde teriam morado José e Catarina. Conheço bem o Centro Histórico de Porto Alegre. Durante anos, circulei por ali, ao natural. Então, quanto a isso não houve necessidade de qualquer pesquisa. Até me sinto parte do cenário.

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Ao “atualizar” esse caso de canibalismo, o senhor insere o enredo de seu romance no mundo contemporâneo, em contexto de debates ideológicos, teorias conspiratórias, “iluminatis”, fake news e universo digital. Foi uma forma de fazer a arte despir, digamos assim, essas teorias absurdas que não param de surgir? Como ocorreu esse direcionamento?

O livro, na verdade, é uma grande sátira ao momento em que vivemos hoje, a partir das novas tecnologias e ao que elas nos oferecem como opções de vida, para o bem e para o mal. Alguns temas atuais são abordados diretamente, a prepotência, o assédio sexual, a distorção massiva da verdade para fins políticos, o negacionismo científico. O narrador, por exemplo, se apresenta como um ser do mal, integrante de uma entidade do mal, cujo objetivo é manipular mentes humanas para transformar cidadãos de bem em cidadãos do mal.

Como ele faz isso?

Essa organização à qual ele pertence introduziu no corpo das pessoas, via vacinas anti-covid, um chip que envia sinais a um supercomputador, de modo que essas pessoas chipadas possam ser controladas e manipuladas. É a partir desse recurso que ele conhece a vida dos personagens e narra a história. Sim, não deixa de ser uma forma de despir essa nuvem obscurantista e expô-la em praça pública. A minha dúvida é se eles vão entender. De repente, podem até achar que é um elogio (risos, muitos risos!)

Por fim, novidades a vir por aí em sua produção? O que os leitores podem aguardar?

Meu próximo projeto é outro romance, já está pronto. Trata de um tema bem conhecido no momento, que volta e meia entra em destaque na imprensa diária. Trata de uma máfia de aliciadores de jogadores de futebol, que manipula resultados para favorecer apostadores em casas de apostas digitais, as chamadas Bet. O título provisório é Crimes imperfeitos.

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