Categories: Cultura e Lazer

O Lado Pessoal: Lud, a leitora esparolada

Confesso que em todos estes meus (longos) anos de jornalismo, nunca um entrevistado meu havia se denominado uma pessoa… “Esparolada”. Tanto que fui buscar no Google. O esparolado é um “tagarela, aquele que fala muito”. No caso da assistente social Ludmila Faria Mendes Turcheto, 34 anos, até pode ser. Ela fala, sim, bastante. Mas no mais absoluto bom sentido e na medida certa. É divertida. Lud se comunica com muita propriedade principalmente sobre aquele assunto que mais lhe interessa: livros. É uma apaixonada por literatura, sempre foi, desde menininha, situação que lhe deu voz e vazão para tanto poder de expressão.

Ela é natural de Catalão, município que fica no Sul do Estado de Goiás, na divisa com Minas, relativamente perto de Brasília e de Belo Horizonte. E há um ano mudou-se para Santa Cruz do Sul, em razão do trabalho do marido, o Higor, supervisor de meio ambiente na JTI. Junto com eles veio o “esparoladinho” Antônio, de 3 anos, que eu também tive o prazer de conhecer.

“Estranhei o início aqui”, conta Ludmila, referindo-se ao jeitão meio fechado, sisudo, do santa-cruzense de raiz. “Mas hoje já estou bem acostumada e conheço um monte de gente legal. A cidade é linda. Tem um monte de escritores. Só não consigo me acostumar com o frio.” E solta uma risada gostosa, que dá prazer em ouvir, tanto quanto gostoso é o seu sotaque centro-oeste. “As pessoas me convidam para sair só para ouvir o meu jeito de falar.” Outra risada.

Publicidade

Foi em Catalão, onde ainda mora o pai e a mãe, o seu Célio e a dona Baixinha, que Lud inaugurou o seu sebo virtual, o Livro de Segunda, que depois passou para um espaço físico, com venda direta de livros e tal, aproveitando-se principalmente do fato de que na cidade não existiam livrarias. “Tem banca de revista. Eu adoro banca de revista. E seguidamente sonho que estou dentro de uma.” Hoje restringe-se novamente ao mundo virtual, no Whats e Insta, mas não como loja. “É um espaço de dicas. Eu leio muito e ali eu vou indicando livros, principalmente os que eu leio. Também criei o Livrinho de Segunda, com sugestões de livros para crianças.”

E não é só isso. Lud também tem o Galeano Todo Dia, onde posta, diariamente, um conto do livro Bocas do Tempo, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e participa de vários grupos de leituras, no mundo virtual, como, por exemplo, o Lido Lendo. Neste, está lendo toda a obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski em ordem cronológica. Já está no 11º, Uma História Desagradável, e ainda tem muita coisa pela frente. “Adoro”, diz ela. E ri.

Paralelamente, ela se diverte com A montanha mágica, de Thomas Mann, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, que nos acompanhou na farta mesa de café que ela me serviu no final daquela fria tarde de terça-feira. Não faz muito que, com a minha colega Paola Severo, promoveu um evento de troca de livros numa das praças da cidade. “Teve uma repercussão incrível, conheci pessoas, foi muito legal. E a Paola é um barato, né?”

Publicidade

Sua biblioteca é uma delícia. Muito bem organizada. Ali ela me apresenta aos seus preferidos: Clarice Lispector, Mia Couto, Walter Hugo Mãe, o Machadão – “Vou começar a participar do Machado Todo o Dia” – e a escritora nigeriana (visivelmente muito especial, para ela) Chimamanda Ngozi Adichie: “Nossa, ela é demais. Tu tens que ler. Posso te emprestar, se tu quiser”. Também me impressionam as leituras de Higor: Oliver Twist, de Charles Dickens, no original, em inglês, e Guerra e Paz (já está no segundo tomo), de Liev Tolstói. Até o pequeno Antônio tem a sua biblioteca particular e se exercita na “arte” plástica decorando, com suas pinturas, a parede do apartamento. Moram em um ensolarado prédio nas proximidades da Imigrante.

Eu sou assim. Quando encontro pessoas que comigo compactuam este prazer tão literalmente ao alcance das mãos, o da leitura, sou capaz de também ficar eu meio esparolado. Fiquei muito feliz em conhecer esta jovem família, que ama o livro nos seus mais diversos formatos, mas com preferência – como Lud fez questão de dizer, enfática – pela obra impressa. “Ah, ele não vai morrer nunca. Pode apostar.” Concordo plenamente. Senão, que graça o mundo teria, não é mesmo? Sem os livros em nossas mãos, ao alcance delas, como nós, os esparolados, iríamos ficar? Não teríamos mais ferramentas para o tanto que ainda temos que falar.

Leia outras reportagens do Lado Pessoal:

Publicidade

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

Share
Published by
Naiara Silveira

This website uses cookies.