A aproximação do Dia dos Namorados colocou nossa caçula, Ágatha, às volta com os preparativos do que tem chamado de “um jantar romântico”.
– Terá que ser aqui em casa mesmo, pai, devido à pandemia.
– Mas, afinal, qual o teu interesse nessa história de jantar romântico? – eu quis saber. – Não vais me dizer que tens namorado!?
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– Claro que não, pai. Deus me livre, eeeca… – e meneou a cabeça. – O jantar é para ti e a mãe.
– Ahhh – suspirei. – E qual será o cardápio?
– Não pensei ainda, isso é o de menos. O mais importante, em um jantar romântico, é que tenha velas – e se pôs a revirar as gavetas, até que topou com um toquinho de vela, utilizado na última vez em que faltou luz. – Essa deve servir.
E a Isadora, que a tudo observava em silêncio, resolveu dar o seu pitaco:
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– Acho que está perdendo seu tempo, Ágatha. O pai e a mãe não são namorados. São casados…
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Com o adiamento da volta às aulas, as crianças estão preparando-se para algo novo para elas: as aulas em EAD. Até agora, o estudo à distância ocorria em um sistema meio híbrido, com material impresso retirado na escola e exercícios repassados via grupos de WhatsApp, também utilizados para sanar dúvidas com as professoras – aliás, cabe ressaltar o esforço das profes neste período. Pela movimentação nesses grupos, era possível notar que as prôs passavam manhã, tarde e noite neste tira-dúvidas, inclusive aos fins de semana. Contudo, com o prolongamento da pandemia, começarão em breve aulas em um ambiente todo virtual, acessado com login e senha. Nesta semana, os professores passam por treinamento para manejar o sistema e preveem que se avizinha mais uma tarefa desafiadora.
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Tive a experiência de lecionar via EAD em meu período como professor na Unisc, onde, mesmo em cursos presenciais, há possibilidade de ministrar até três aulas à distância por semestre. A galera adorava quando eu marcada aulas não presenciais – principalmente quem vinha de longe – e não havia dificuldades em operar o sistema. Porém, meus alunos eram universitários, todos tarimbados no uso de tecnologias. Não será a mesma coisa para crianças de 7 ou 8 anos, mesmo aquelas acostumadas a manejar o celular em busca de desenhos animados no YouTube. Ao que tudo indica, os pais ou responsáveis terão de pegar junto e, para muitos, será também um desafiador processo de aprendizado.
***
Para as gurias lá de casa, por enquanto, tudo é festa. Acharam o máximo criar a conta no ambiente EAD, inventar uma senha cheia de mistérios e símbolos secretos, escolher suas fotinhos de perfil. Não veem a hora de começarem as aulas neste novo ambiente.
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Ágatha, contudo, confidenciou que tem saudades de ir à escola – o que nos surpreendeu um pouco. Afinal, ela costuma ser a mais reclamona na hora de deixar as cobertas quentinhas para ir às aulas, pela manhã. Perguntamos do que mais sentia falta.
– De tudo – respondeu. – Do abraço da profe, das matérias no quadro, dos livrinhos na biblioteca, das brincadeiras com as gurias na hora do recreio…
Mas, ao que tudo indica, Ágatha terá que conviver com a saudade da profe e dos coleguinhas por mais tempo.
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Paciência, minha filha. É um mal necessário.
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