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O inusitado me lambe os pés

Já expus aqui, nas páginas da Gazeta, os meus problemas com o calor. Mais especificamente, com o “calorão”. O calorão aquele, do auge do verão, em que tu abre uma das janelas da casa na esperança de “colher” uma brisa, ela vem e te queima as pestanas.

Tu abre a janela, de novo, e os mosquitos fecham, por dentro.

Tu abre a torneira da pia da cozinha e dá para tomar um mate direto dali. Tu vai tomar um banho frio, para te refrescar um pouco, e sai escaldado, como um peru de Ano Novo. Tu vai regar os tomatinhos e eles ficam cozidos. Tu deixa cair uma dúzia de ovos no chão e os que não fritam viram pinto e correm para a geladeira. Enfim.

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Aqueles dois dias que antecederam a virada do ano aqui em Santa Cruz do Sul foram desumanos, de Marte. A cidade mais quente do Estado, benzadeus! Só de lembrar que aqui fez um calor similar ao do interior do Piauí me dá ganas de migrar para a Groenlândia.

Fui pesquisar e descobri que Bom Jesus é a cidade mais quente do Brasil. Curiosamente é o nome também de uma das mais frias. A mais quente fica localizada na região do Vale do Rio Gurgueia, no Piauí, região Nordeste do País. A temperatura mais elevada da história, registrada lá, foi de 44,7 graus. Veja bem que aqui não ficamos muito longe disso.

A Bom Jesus piauiense faz limite com Currais, Santo Luz, Monte Alegre, Redenção, Morro Cabeça no Tempo, Guaribas, Baixa Grande do Ribeiro e Gilbués. Fica a 635 quilômetros de distância da capital, Teresina, e pela alta temperatura, similar, já é possível nos imaginarmos morando lá. Olha bem para a fotinho: Bom Jesus não te lembra Santa Cruz?

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A solução encontrada pela ala mais inteligente da família – a minha querida Josy, parceira de inverno, verão, primavera e outono! – foi a praia.

Sim, fugimos para a orla marítima e quebramos uma tradição “milenar” de passar com os amigos. Eles perderam, é claro – mas o curioso é que, até agora, não se queixaram. Ficaram, por exemplo, sem as minhas geniais piadinhas de fim de ano, do tipo “que horas é a virada?”, e nós ganhamos um ventinho geladinho sensacional vindo do continente europeu, que eu imagino ter feito a curva no Trópico de Capricórnio, meu ascendente, para que tudo transcorresse de uma forma tão boa, tranquila e maravilhosa: a lentilha não salgou, a carne estava macia e suculenta, e o espumante bem geladinho.

Vou guardar na memória por todo o 2020 aquela incrível sensação de colocar os pés descalços na areia fria pela última vez em 2019 e pular a sétima onda de 2020 de mãos dadas com o meu filho, molhando todos ao redor e rindo, eu e ele, como duas crianças arteiras.

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E tava bem fresquinho…

O inusitado aconteceu depois. E se esse “inusitado do depois” foi alguma ação divina, só pode querer dizer que o meu 2020 vai ser regado de boas surpresas.

Enquanto batíamos a areia dos pés para nos acomodarmos no carro e votar à base para derrotar o que havia sobrado do pernil, um yorkshire muito engraçadinho aproveitou a porta aberta e mergulhou para debaixo do meu banco – o lugar mais seguro, segundo ele, para escapar daquela guerra infernal, de barulhentos fogos de artifício. Ele se mudou para debaixo do meu banco, e quem diz que queria sair dali.

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Caramba, e agora, o que fazer? Procurei e nada de o dono do animalzinho aparecer – embora novos donos não cessassem de se oferecer!

A Josy até tentou um segurança do Caburé (estávamos em Atlântida, em frente à casa do milionário), mas ele foi bem enfático:

– Aqui ninguém gosta de cachorro!

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Fizemos então uma doação para a corporação da Brigada Militar local, que agora tem um esperto e amável (é sério, ele gostou de mim, por mais incrível que possa parecer) cãozinho engrossando suas fileiras: com incrível destreza, ele detecta gente boa a quilômetros de distância e se algum bandido der um tiro por perto, ele voa para dentro da viatura.

Bom 2020, pessoal!

TI

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