Escrevo este texto ainda tomado de emoção com as homenagens que recebi em mais um Dia dos Pais. Por mais protocolar que possa parecer, porque as datas festivas se repetem todos os anos, acaba sendo sempre uma oportunidade de expressão recíproca – entre pai e filhos – de profundo afeto, amor, comprometimento eterno. E também de congraçamento, tão raro nestes tempos de pandemia.
Para mim, pessoalmente, essa data também tem sido uma oportunidade de reflexão. Primeiro, motivo de profunda gratidão a Deus pelo pai que tive. Entre tantas lembranças que dele guardo, me ensinou desde o berço que honestidade não é conveniência, mas uma marca que se cunha na testa, que se revela no DNA e nas atitudes do dia a dia. Que lealdade não é um favor, mas uma questão de honra diante daqueles com quem nos comprometemos.
Não menos gratidão sinto pela graça de ser pai do Fernando, da Anna e do César, os filhos mais amorosos, companheiros, amigos que poderia ter. Uma das poucas coisas que peço a Deus em minhas orações é que cuide deles e que eu tenha o privilégio de vê-los felizes e se encaminhando para a sua realização pessoal e profissional.
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Penso no que fiz e no que poderia – ou deveria – ter feito diferente. Onde errei e onde acertei em minhas decisões. E chego à conclusão que o saldo é imensamente superavitário em felicidade, em harmonia, em bem-querer.
Vou pedir autorização para reproduzir (logo entenderão por quê) uma síntese do depoimento de um passageiro do voo 1549 da US Airways, que no dia 15 de janeiro de 2009 sobreviveu a um pouso da aeronave no Rio Hudson, em Nova York, com 155 pessoas a bordo. Aliás, todos se salvaram milagrosamente, num episódio muito bem retratado pelo diretor Clint Eastwood no filme Sully: o Herói do Rio Hudson, magistralmente estrelado por Tom Hanks.
O depoimento a que me refiro não está nesse filme. Mas são justamente as cenas dramáticas daquele voo que dão o real significado ao drama que as pessoas a bordo viveram. Tudo em questão de instantes. Imagine que o avião em que você acaba de decolar perde os dois motores e você ouve o piloto dizer: ”Preparem-se para o impacto”.
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O que esse sobrevivente conta é justamente o que se passou na sua cabeça naqueles segundos que antecederam o mergulho nas águas geladas do rio. E ele relata ter descoberto três coisas importantes sobre sua vida:
1 – Tudo muda em um instante: tinha uma lista de desejos a alcançar, de pessoas que gostaria de contatar, de experiências que queria ter tido e não tive. Não quero adiar mais nada na vida.
2 – Em minha condição humana me arrependi de perder tempo com coisas desnecessárias junto a pessoas que são importantes para mim. Decidi eliminar a energia negativa da minha vida. Já não tento estar sempre certo. Prefiro ser feliz.
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3 – Eu não queria ir embora. Amo a minha vida. Agora só desejo uma coisa: ver meus filhos crescerem. Porque a única coisa realmente importante na vida, para mim, é ser um grande pai!
Comovente! É desafiador imaginar o que se passaria na nossa cabeça se estivéssemos numa situação de morte iminente como aquela. Pedir proteção, arrepender-se dos erros cometidos, renovar juras de amor, tantas coisas. Mas de forma alguma esqueceria do desejo derradeiro do sobrevivente do voo 1549: ter ainda a oportunidade de ser um grande pai.
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