No céu havia um imigrante alemão com imensa saudade de sua Heimat terrena. Implorou a Sankt Peter que lhe concedesse um breve retorno a Santa Cruz. Não que não apreciasse a vida celestial, mas sentia saudade de ir à igreja aos domingos, da vida em comunidade – das longas mesas em torno das quais se reuniam em dia de festa para confraternizar, cantar, conversar e saborear seus pratos preferidos: Brathuhn/galinha recheada e assada no Backofen; um Schweinebraten/assado de porco acompanhado de Kartoffelklösse (almôndegas de batata cozidas e farinha); Grillwurst/ salsicha grelhada; em cada prato uma porção generosa de Kartoffelsalat/salada de batatas ou Sauerkraut/repolho fermentado e um bom caneco de Bier.
O dono da chave celestial atendeu ao seu apelo por um breve retorno; devolveu-lhe o corpo terreno, abriu o portão e lá se foi o imigrante. Não é que aterrissa bem no meio de uma missa em língua alemã na Kathedrale des heiligen Johannes der Täufer! Oh, regozijo! Ele havia auxiliado no erguimento da colossal casa de Deus. Ele a encontra repleta de fiéis, celebrando a imigração alemã, e ele pôde, enfim, participar do santo ofício em alemão, em memória aos seus. Havia falecido um tantinho antes da inauguração.
A festa que se seguia à celebração não contemplava a culinária alemã. Sai, então, à procura dos sabores de sua saudade. Ninguém soube lhe indicar um restaurante que oferecesse iguarias alemãs. Alguém lembrou que, no dia seguinte, encontraria galinha assada, recheada, em Rio Pardinho. E lá se foi o imigrante ao encontro de um de seus pratos preferidos. Mas na festa já haviam vendido mais de mil e sobrara apenas o aroma dos assados.
Mas o imigrante persiste em sua procura. Em todas as festas encontra mais do mesmo: música em altíssimo volume, galeto, churrasco, salada de maionese. Observando a salada, encontra nela Kartoffeln. Não mais feita do jeito que estava vivo em sua memória – invisibilizaram a batata do alemão, cobrindo-a com maionese industrial, e passaram a chamá-la de salada de maionese.
Publicidade
Triste, segue pela estrada. Em dado momento, um repicar de sino afaga seu ouvido como um chamamento. Ao longe, na encosta de um outeiro, vislumbra um mosteiro, de onde procedem os divinos sons. Lá, encontra monjas que o acolhem e ouvem seus anseios. Na despensa há batatas, e na geladeira, um tanto de Wurst/linguiça. Com esses ingredientes básicos, o imigrante, auxiliado pela boa vontade das religiosas, prepara a salada de batatas, como a guardara em sua memória. Enfim, pôde degustar em fraterna companhia um pouco das delícias do passado. Agradecido, se recolhe extenuado, mas satisfeito, ao descanso no quarto para hóspedes.
Noutro dia, quando o repicar do sino convida à oração matinal, ele já não está mais lá. Sobre a cômoda, deixara uma missiva em que agradecia a devota acolhida.
Kartoffelsalat – como minha Wowa Lídia preparava:
Publicidade
Preparo
Ferver as batatas com casca; descascá-las ainda quentes e cortá-las em rodelas finas – reservar. Numa tigelinha, separar um pouco das batatas previamente amassadas para o molho. Picar a cebola, refogá-la no azeite aquecido; agregar o caldo de legumes quente ou diluir a farinha em água fria, acrescentar ao molho em fervura para engrossar; agregar a batata previamente amassada e temperar com sal e pimenta. Desligar o fogo, temperar o molho com vinagre, pimenta e sal e integrar esse molho quente às batatas. Finalizar com tempero verde e os ovos cozidos e picados. Deixar a salada repousar por uma hora antes de servir.
Guten Appetit!
Publicidade
LEIA MAIS COLUNAS DE LISSI BENDER
Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙
Publicidade
This website uses cookies.