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O homem da sepultura com capacete

Nossa região guarda um imaginário repleto de histórias e lendas incríveis, e torço para que tais narrativas não desapareçam com as novas gerações. Semanas atrás escrevi aqui na coluna sobre a lenda dos pelotões-fantasma do Santa Vitória – segundo os relatos, formados por soltados espanhóis que tombaram em combate, tentando invadir Rio Pardo no século 18. Rio Pardo, aliás, preserva incontáveis registros e monumentos sobre mais de 200 anos de histórias de fé, bravura e sangue. Foi lá que ocorreram algumas das batalhas mais importantes da Revolução Farroupilha.

Mas hoje vou falar sobre um outro enredo, bem menos conhecido, mas que permanece vivo na memória dos moradores mais antigos de Sinimbu. Trata-se da tragédia que se abateu sobre o austríaco Carl Schreiner, o homem da sepultura com capacete. Chamo-o assim porque sobre sua lápide, feita em pedra grés, no Cemitério Católico de Sinimbu, foi esculpido um capacete militar do tipo stahlhelm – via de regra, associado ao nazismo, por ter sido utilizado também pelas tropas de Hitler. Mas a história de Carl Schreiner é outra.

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Meu avós maternos estão sepultados no Cemitério Católico de Sinimbu, contudo, a estranha lápide de Carl Schreiner nunca havia me chamado atenção por lá. Até que meu amigo e colega jornalista José Renato Ribeiro me relatou ter visto a sepultura, há uns dois ou três anos. Contou-me também que a placa com os dados do falecido fora removida da lápide, como se alguém quisesse manter em segredo a identidade da pessoa ali enterrada.

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Aquilo nos manteve intrigados por um longo tempo, desafiando nosso instinto de jornalistas, levando-nos a diversas conjecturas sobre a identidade do morto e sobre os motivos do desaparecimento das informações na lápide. Afinal, como um militar nazista fora parar em Sinimbu? Seria um genocida, escondido na região para escapar aos julgamentos de Nuremberg? E a quem interessaria esconder essas informações?

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Ano passado tomei fôlego para investigar essa história a fundo. Comecei entrevistando antigos moradores de Sinimbu e também fui em busca de velhos documentos. Contei com a prestimosa ajuda do ex-coveiro do Cemitério Católico de Sinimbu, Isidoro Henn – que viria a falecer poucas semanas depois de nossas conversas – para apurar o nome do homem da sepultura com capacete. E descobri também que Carl Schreiner fora, de fato, um ex-combatente – mas que lutara na Primeira Guerra, não na Segunda. Logo, não era um soldado nazista, constatação que dirimiu a nuvem de reservas e antipatias que eu, de início, nutria em relação a esse personagem.

Com a ajuda do escritor e pesquisador Márcio Scheibler, tive acesso ao atestado de óbito de Schreiner, armazenado em um banco de dados genealógicos. O documento revela que Carl, imigrante austríaco radicado em Sinimbu, havia morrido aos 41 anos em 8 de junho de 1936, vítima de “morte violenta, em consequência de graves ferimentos no ventre, com grande hemorragia”.

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Sim, Carl Schreiner fora assassinado.

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Uma das pessoas que me relataram detalhes da história por trás do assassinato foi a professora aposentada Rosane Weigel, pessoa conhecidíssima em Sinimbu. A prô Rosane é neta do lendário professor e tabelião Frederico Kops, que dá nome à principal escola estadual do município. Uma das últimas pessoas a ver Carl Schreiner com vida, Kops relatou o episódio às filhas e sua narrativa sobreviveu de geração em geração. Por meio desta e de outras entrevistas, soube que Schreiner, ex-combatente do Império Austro-Húngaro, sobrevivera ao terror dos campos de batalha da Primeira Guerra para morrer tragicamente em Sinimbu, vítima de um amor proibido. Ou seja, é mais uma história fantástica, guiada pelos meandros da ironia do destino.

Reservarei mais detalhes do que apurei para meu novo livro, intitulado O homem da sepultura com capacete – uma história inspirada em fatos reais, que já está no prelo, a ser lançado nos próximos dias com selo da Editora Gazeta e o prestimoso apoio cultural da JTI (sim, admito: a coluna de hoje é também um merchan do livro). 

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Adianto, contudo, que a obra divide-se em duas partes. A primeira delas, repleta de fotografias coloridas, traz fatos reais, jornalisticamente apurados. Já a outra mescla realidade e ficção, seguindo uma estratégia literária inaugurada por grandes escritores que admiro – daí que o livro, como um todo, é um romance inspirado em fatos reais, como diz seu título.

Essa estratégia narrativa deu-me, também, a possibilidade de cruzar a história de Carl Schreiner com uma série de outras narrativas e lendas que povoam o imaginário do Vale do Rio Pardo, a terra que o austríaco escolheu para viver após a Primeira Guerra. E, assim, busco contribuir para a preservação dessas muitas histórias. Cumpre citar, para dirimir eventuais preocupações, que optei por manter em sigilo os nomes das pessoas diretamente ligadas ao assassinato de Carl Schreiner – particularmente, de seu algoz e da jovem por quem ele se apaixonara – em respeito a seus descendentes.

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Nos próximos dias, divulgaremos mais detalhes acerca do valor e pontos de venda do livro. Mas, para quem já quiser deixar o seu exemplar reservado, com um desconto amigo, basta conversar comigo através do e-mail ricardo@gazetadosul.com.br. Um abraço, e bom fim de semana.

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