No começo da década de 1920, Santa Cruz, que completava 70 anos desde a chegada dos primeiros imigrantes alemães, apresentava franco desenvolvimento, com crescente infraestrutura urbana, florescente industrialização, apoiada na produção de tabaco, e sinais de modernidade, como o trem que a ligava ao resto do mundo.
Foi nesse contexto que chegou à cidade um pintor austríaco. Franz August Steinbacher vinha, ao que tudo indica, para cumprir um primeiro trabalho, o de pintar os murais e o foro da sala principal do antigo Banco Pelotense, hoje Casa das Artes Regina Simonis, em área central, na esquina das atuais ruas Marechal Floriano com Júlio de Castilhos. Esse prédio foi inaugurado em 1922.
Cumprida essa missão, Franz permaneceu na cidade, nela constituiu família, e nos anos seguintes atenderia a outras demandas, cuja execução se firmou na memória cultural e arquitetônica regional. Pintou, por exemplo, o interior das igrejas Nossa Senhora da Glória, de Sinimbu, e São Miguel, de Linha General Osório. Além delas, recebia encomendas em várias regiões do Estado. De sua residência, na atual Rua Marechal Deodoro (em prédio no qual hoje funciona o Restaurante Gehrke), viajava para essas diferentes localidades e também pintava paisagens e retratos, incorporados a acervos particulares ou coletivos.
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Em Santa Cruz, Franz viveu do início da década de 1920, quando chegou, até sua morte, em 1933, aos 46 anos. Não apenas testemunhou essa época, como a fixou em pinturas, desenhos e aquarelas, ou ainda com máquina fotográfica. Casara-se com Wilma, e com ela teve as filhas Alice e Irma. Os Steinbacher depois adquiriram uma chácara na subida da Rua Thomaz Flores. Estão sepultados no jazigo familiar no Cemitério Católico de Santa Cruz.
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Olhar sobre a Santa Cruz dos anos 1920
Há 100 anos, quando já estava radicado em Santa Cruz do Sul, o pintor alemão Franz Steinbacher tornou-se testemunha de uma época de plena florescência da até então pacata localidade. Com seus dons de pintor e desenhista, e munido de máquina fotográfica, fixou paisagens que, logo depois, com o rápido desenvolvimento, seriam completamente alteradas. Por mais de uma década ele conviveu entre os moradores da cidade e do interior, e viajou por outras colônias alemãs do Estado. Esses valiosos registros acabaram interrompidos com seu falecimento bastante precoce, aos 46 anos, mas ficam como janelas que se descortinam sobre o passado colonial alemão do Rio Grande do Sul.
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Testemunhos de uma época de ouro
Afora seus trabalhos realizados no interior do antigo Banco Pelotense, atual Casa das Artes Regina Simonis, e das igrejas católicas de Sinimbu e de Linha General Osório, em Monte Alverne, poucos registros efetivos sobre a vida e a obra de Franz August Steinbacher ficaram na imprensa ou na comunidade. Estudos esporádicos apontavam para sua atuação: o professor e arquiteto Ronaldo Wink o contemplou em ensaio sobre a igreja Nossa Senhora da Glória, e o jornalista José Augusto Borowsky o mencionara em suas colunas na seção Memória, veiculada nas edições de segunda-feira da Gazeta do Sul.
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No entanto, por mais de uma década Franz percorreu a região e o Estado, e parece ter ido bem além dele, atendendo a encomendas. Nesses percursos, desenhou ou pintou dezenas ou centenas de paisagens ou retratos, hoje integrados a diferentes acervos, alguns de paradeiro incerto. Era o olhar de um mestre.
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Nascido em 26 de agosto de 1887, na cidade de Innsbruck, na região do Tirol, na Áustria, formou-se na Escola de Belas Artes de Viena. Migrou para o Brasil e chegou a Santa Cruz no começo da década de 1920. Por aqui, casou-se com Wilma, nascida em 9 de abril de 1901, 13 anos mais nova do que ele. Com ela teve as filhas Alice, que se casou com Forster e se fixou em Vera Cruz, e Irma. Esta, nascida em 22 de abril de 1927, tinha 6 anos quando Franz morreu, em 17 de novembro de 1933, aos 46 anos.
No início, a família residia na Rua Marechal Deodoro; depois, adquiriram chácara na subida da Thomaz Flores. Ali, a viúva e a filha solteira ficaram morando. Wilma faleceu em 24 de junho de 1987, com 86 anos; Irma seguiu na casa familiar até sua morte, de câncer, em 6 de maio de 2010, com 75 anos. Por 25 anos, desde quando estava por volta dos 50, quem cuidou dela foi o auxiliar de obras santa-cruzense Armindo Goelzer, que se tornou, assim, um guardião da memória familiar.
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Quando Irma faleceu, parcela dos documentos que pertenceram a Steinbacher e a sua família ficaram com Goelzer. Aos 75 anos, é ele quem zela por lembranças, histórias e feitos de um dos mais importantes artistas que já atuaram em Santa Cruz. Em sua residência, recebeu a Gazeta do Sul para conversar sobre a convivência com Irma e compartilhar registros, como documentos e fotos, com a marca de Steinbacher.
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