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MARCIO SOUZA

O gauchismo vira arte

O jeito rústico do gaúcho, que vivia com a faca na cintura, pronto para a lida de campo sobre o cavalo; e a capacidade da prenda estar disposta a não correr dos desafios, ao ponto de ser traduzida em música como tendo “um filho no braço e no outro um fuzil”; ganharam a leveza da arte, a sutileza da dança, com seus passos estrategicamente apontados para transmitir uma mensagem: a adoração pela tradição do Rio Grande do Sul. É isso que se vê nas apresentações do Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), que movimentaram os espaços do Parque da Oktoberfest.

Em cada novo grupo que subiu ao tablado uma nova história contada, com temas que variaram entre reconstrução, resiliência e solidariedade. O gaúcho ficou submerso, mas nadou a braçada para voltar à ativa e dar continuidade. E para isso contou com outros gaúchos, com brasileiros de todas as regiões e até representantes de fora do País. Tudo isso foi contado pelos jovens bailarinos das 30 regiões tradicionalistas.

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Tudo isso explica-se como bem lembrou o grupo Tchê Barbaridade, em O Rio Grande me criou: “É o meu mundo, é o meu destino. Por isso razões me sobram pra meu viver campesino. De menino me criei (coração sempre campeiro); desse jeito morrerei, uh! Vem curtindo, Rio Grande!”. Mas essa terra que motiva tanto carinho não trouxe desafios apenas neste ano de intempéries. A lida, por aqui, é sempre puxada. Já cantou Leopoldo Rassier, ao destacar o Entardecer Gaúcho: “O minuano rincha, nas estradas rubras, repontando as nuvens. Pelo céus arriba o sol poente arde, em sobrelombo à crista, quando Deus artista vem pintar a tarde”.

E se um dia estiveres fora do Rio Grande e achar que pode a memória lhe faltar sobre o que nos faz gostar tanto deste torrão, coloque a tocar a inconfundível voz do Wilson Paim. O sangue farroupilha, como disse a presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Ilva Maria Borba Goulart, voltará a correr em suas veias, levando ao recanto da memória que Ainda Existe um Lugar: “Pela manhã o sol nascente vem sorrindo; e os passarinhos cantam hinos no pomar; o chimarrão tem um sabor de esperança; e a criança traz um futuro no olhar.”

É assim, com a certeza de que as crianças e esse brilho no olhar continuarão a levantar a bandeira com as cores verde, amarelo e vermelho, que seguem os tradicionalistas de agora. Olham para o futuro e sabem que a Chama Crioula continuará acesa em Bagé, Vacaria, Triunfo, Caxias, Santa Cruz ou no Baita Chão. Em cada canto haverá “Um sorriso, uma canção, uma flor, um abraço, um mate amigo, um amor; é assim que a alma voa pra encontrar as coisas boas, que o destino reservou”, transformou sentimento em música o cantor gaúcho João Chagas Leite.

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