Tempos atrás minha querida amiga, a dra. Lais Legg, psiquiatra e comunicadora que mora em Porto Alegre, na rua que passa aos fundos dos jardins do Palácio Piratini, me mandou o seguinte mail:
“Caro Ruy! Como partilhamos os mesmos pensamentos em relação à natureza, vou te pedir ajuda. Chorei muito, agora de manhã, pois estranhei que nosso querido Galo Jorge e sua esposa (a galinha) não cantavam mais. Pensei que estavam recolhidos devido às festas no Palácio Piratini.
Hoje, depois de mais um amanhecer silencioso, fui até a estação do DMAE, ali na Praça Pe. Gregório de Nadal, e recebi a triste notícia: Jorge e sua esposa amanheceram mortos, há poucos dias, após ingerirem o veneno de rato colocado na praça pela Prefeitura. Realmente, a praça foi limpa, pintada, teve as árvores podadas e eu vi o tal veneno colocado em vários buracos nas raízes dos 12 ficus ali existentes.
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Pobre Jorge… não merecia este fim, após nos alegrar tanto com suas cantorias. Estou à procura de outro galo e outra galinha, mas está difícil. Liguei para o Seguézio, para a Loja do Galo (no Mercado Público), mas teve muita saída e eles só têm frangos. Estou determinadíssima a repor o nosso casal emplumado na região, poderias me ajudar?
Aguardo teu retorno.”
Claro que trouxe umas galinhas e um galo lá da fazenda e ela os soltou solenemente, não sem antes dar severas advertências aos funcionários dos jardins. Para se ver que sempre resta em nós a ternura e o amor aos animais.
Pois não é que Maristela, minha mulher, cismou que quer ter galinhas na nossa casa da praia, em Xangri-lá? Ponderei, com cuidado, que talvez não fosse boa ideia, o galo poderia acordar os vizinhos. Ela redarguiu que os passarinhos também começam a cantar antes das 5 da manhã. Argumentei que poderiam sujar a piscina, ao que ela objetou que os cães também fazem cocô. Repliquei que sua hortinha estaria condenada pelos galináceos. Ela disse que iria isolar as hortaliças com uma bela cerquinha. Fui tentando dissuadi-la. Até que ela sentenciou: “tua mãe, que tanto adoraste, a dona Ludmila, sempre teve galinhas ali onde ela morava na Thomaz Flores em Santa Cruz, praticamente no Centro da cidade…”.
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Esse argumento, evocar minha mãe, a primeira feminista que conheci, foi o equivalente a uma bomba de nêutrons sentimental. Concordei, mas com uma condição: não matar os bichinhos, só comer os ovos. Ela “pediu vista” do processo. Deixei quieto… Não sei não, será que ela anda vendo demais a TV Justiça ou anda recebendo WhatsApps celestiais de sua sogra?
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