A imagem de Dunga gritando ao levantar a taça da Copa do Mundo, como capitão da Seleção Brasileira, se mantém viva na cabeça de milhares de brasileiros. Na tarde de 17 de julho de 1994, no Estádio Rose Bowl, na cidade de Pasadena, Estados Unidos, o Brasil venceu a Itália na primeira final em disputa por pênaltis da história dos mundiais e conquistou o quarto título.
O grito do capitão foi o mesmo de uma geração de torcedores, que aguardava ansiosamente uma conquista que não vinha há 24 anos – desde 1970, com Pelé em campo. Naquele dia, outra geração nascia, com frutos que viriam a ser conhecidos anos depois, como torcedores ou jogadores de renome mundial. Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, de 58 anos, nasceu em Ijuí e foi um personagem central na história do futebol brasileiro.
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Com três Copas do Mundo disputadas (1990, 1994 e 1998), duas das quais esteve na seleção da competição, passou por clubes na Itália, Alemanha, Japão e Brasil. No país de origem, nunca escondeu o carinho pelo Internacional, onde começou a carreira em 1983 e pendurou as chuteiras, já em 1999. Como treinador, teve duas passagens pela Seleção Brasileira, onde conquistou Copa América e Copa das Confederações. Já no comando técnico do Inter, levantou a taça do Gauchão.
Atualmente, o capitão do tetra mantém um trabalho social desenvolvido no Instituto Dunga, com o projeto Seleção do Bem 8. Em visita a Sobradinho na última quinta-feira, 21, acompanhou uma atividade no estádio do Atlético Esportivo Sobradinho, em que o valor e os alimentos não perecíveis arrecadados serão revertidos. O projeto dele e outras duas entidades da cidade do Centro-Serra – a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Sobradinho e a Casa de Recuperação Centro-Serra Valentes de Davi – foram os beneficiados com a ação.
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Na oportunidade, além de falar sobre o trabalho social, conversou com a Gazeta do Sul sobre a vida relacionada ao futebol e episódios que marcaram a carreira.
Confira a entrevista completa com Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga:
- Gazeta do Sul – Quais as lembranças que ficaram da conquista da Copa do Mundo de 1994, quando a Seleção Brasileira, mesmo desacreditada por parte da população, conseguiu levantar a taça?
Dunga – É normal do ser humano fazer críticas, ser desconfiado. Mas em se tratando de Seleção Brasileira, quando chega o momento da Copa do Mundo, o povo se reúne para torcer para o Brasil. Eram 24 anos sem ganharmos a taça e nós, jogadores, tínhamos em mente que quando as pessoas criticam e falam, não adianta ficar reclamando e se colocando como vítima. A nossa cabeça é dividida em problemas e soluções. E tem que focar na solução, porque o problema não tem como tirar. Felizmente fomos campeões. O nosso grupo todo queria entrar para a história. Já éramos realizados profissionalmente, já jogávamos na Europa, tínhamos uma vida tranquila, mas não adianta ter tudo isso, se não temos histórias para contar aos nossos filhos, netos e amigos. O homem é feito de histórias. Ser bem-sucedido, mas ter uma trajetória, conquistas, dificuldades e conhecer o ser humano em que se transformou nessa caminhada. E o futebol é igual a nossa vida. Desde criança, tudo que se passa é mais importante do que um bem adquirido quando adulto, pois o que vale é a história do que fez para chegar até onde está. - O que aconteceu na final da Copa do Mundo de 1998, quando a Seleção Brasileira não jogou bem e foi goleada pela França por 3 a 0?
Para fazer essa análise, temos que voltar um pouco no tempo. Fazia 24 anos que o Brasil não ganhava nada. Depois, chegamos em duas finais seguidas. É normal do ser humano querer sempre mais. Lógico que teve o problema com o Ronaldo, a convulsão, logo no início da tarde. Mas também temos que ter a grandeza de reconhecer que os outros foram melhores. Não adianta querer arrumar desculpa. Talvez, se isso do Ronaldo tivesse acontecido três ou quatro dias antes, dava tempo da gente pensar e reagir de outra forma. Em uma Copa do Mundo, você trabalha quatro anos para uma decisão. E quando chega na final, se meia hora antes acontece um problema desses, mexe com tudo. O foco estava todo na final. Pouco tempo antes, paramos de pensar no jogo e passamos a pensar no que tinha acontecido com o Ronaldo. Aí desvirtuou tudo. Até a gente entrar no campo e começar a jogar, já estava 2 a 0. - Em que momento descobriram que o Ronaldo não estava bem?
Logo depois do meio-dia ficamos sabendo. Cerca de três horas antes da final. Tínhamos almoçado e depois do repouso haveria uma palestra de uma hora. Nesse período aconteceu, e aí todo mundo ficou preocupado. Primeiro, porque ele era o melhor jogador do mundo na época. Segundo, porque era um amigo nosso que estava há anos conosco. Todo mundo se perguntava se voltaria a jogar, se não ia mais. Nisso, a gente vê que o pensamento saiu totalmente do jogo da final para uma questão de saúde. Aí, quando entramos em campo e acordamos, já estava 2 a 0. - Com títulos já conquistados pela Seleção Brasileira e pelo Internacional, tem planos de dar sequência à carreira de treinador?
Convites chegam sempre. Mas tenho uma vida tranquila no momento. O futebol me deu mais do que eu esperava. Me deu muita coisa. E no momento de pandemia, às vezes você não é o foco principal, e sim as outras pessoas. Para eu ser feliz, as outras pessoas que estão ao meu redor têm que estar felizes. Não adianta eu ter tudo e quem está à minha volta não ter nada. Temos que aprender a repartir também. Tudo tem seu tempo e sua hora. Se eu tiver que voltar a treinar, vou voltar a treinar, mas não fui o único que coloquei o trabalho em segundo plano, minha equipe do projeto Seleção do Bem 8 também. Somos felizes nesse momento em poder ajudar os outros. A vida já foi de uma gratidão imensa comigo, então é o momento de me doar um pouco também.
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