A Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2023, que ocorre na Austrália e na Nova Zelândia e vai para a reta final, com a definição do título neste domingo, 20, no jogo entre Espanha e Inglaterra, tem o dom de iluminar também os mais variados recantos em que a modalidade é praticada por mulheres. E nem a frustração pela eliminação precoce da Seleção Brasileira, ainda na primeira fase, ofusca essa forte projeção que a modalidade tem alcançado.
Os efeitos positivos ou o estímulo ocorrem tanto em centros maiores quanto no interior, e o mesmo acontece no Vale do Rio Pardo. Em Santa Cruz do Sul, na cidade ou nos distritos, muitas meninas e mulheres se dedicam ao esporte, ainda que sem a mesma força ou a proeminência de Porto Alegre, onde Grêmio e Internacional atraem a atenção com times disputando o Campeonato Brasileiro na Série A1, ou mesmo de outras localidades gaúchas. E sonham, confiantes, com dias melhores. O Campeonato Gaúcho Feminino, que teve sua primeira rodada da fase classificatória nos dias 5 e 6 de agosto, e está em andamento, só reforça essa mobilização nas comunidades.
Talvez poucas alimentem com tamanha fé essa expectativa como a santa-cruzense Cláudia Regina da Silva. Ou Claudinha, para os clubes pelos quais passou. Aos 43 anos, segue firme na atividade, no futebol de campo e no futsal, hoje vinculada ao Avenida. E é junto a esse clube, que está na elite do Gauchão, que se mobiliza a fim de convencer a diretoria a apoiar uma equipe para que dispute o Campeonato Gaúcho Feminino de 2024.
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Para 2023, lamenta que já não houve tempo hábil a fim de viabilizar essa disputa. O que Santa Cruz fez por esse certame foi revelar atletas, que já estão habilitadas para disputar a competição por outros clubes, caso do Vidal Pro, de Porto Alegre, e do Brasil de Farroupilha. O torneio tem oito clubes do interior, e os melhores se credenciarão para as fases seguintes, já com presença da dupla Gre-Nal.
Justamente pelo histórico de revelar atletas, esforço que tem a sua intervenção direta, Claudinha alimenta a convicção de ser possível, no ano que vem, disputar esse torneio com equipe representando Santa Cruz. Sabe que isso é possível. Principalmente porque ela própria, em 2017, já foi aprovada em uma peneira no Internacional, que começou com mais de mil candidatas. Depois, entre mais de 700 garotas, ela foi uma das 25 aprovadas, mas não chegou a disputar o Gauchão feminino daquele ano. Empenhou-se inclusive para que a equipe viesse se apresentar em Santa Cruz.
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Ficou por sete meses no Inter, experiência que a fortaleceu imensamente na determinação de estimular outras meninas. De volta a sua terra natal, teve uma passagem pelo FC Santa Cruz, antes de se transferir ao Avenida em 2019, junto ao qual é a atual coordenadora de futebol feminino.
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Caminho já trilhado permite projetar um futuro muito promissor
A experiência feminina com o futebol na região não se resume ao esporte de campo. Aliás, pela exigência de reunir ao menos 11 atletas, além das jogadoras reservas, nem sempre é fácil para os clubes de cidades do interior efetivamente se dedicarem a essa modalidade. Por isso, não raro, os projetos são voltados a futebol sete, ou ainda ao futsal, como tem sido frequente em Santa Cruz do Sul.
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Além das estruturas viabilizadas em espaço urbano, no meio rural diversas iniciativas para inserção ou inclusão das mulheres no ambiente do futebol foram registradas. É sempre citada a determinação do Departamento de Futebol de Monte Alverne, bem como da Liga Integração de Futebol Amador de Santa Cruz do Sul (Lifasc) de salientar e enaltecer a participação feminina na rotina dos clubes, ainda que competições não tenham sido efetivadas.
Nesse contexto, o perfil de liderança da jogadora Claudinha se salienta, com o estímulo que oferece a meninas de todas as idades através de sua escolinha e da estrutura montada pelo Avenida. É com a persistência e a melhoria desses espaços, e com os resultados positivos na prospecção de atletas, que as mulheres da região miram um futuro promissor no futebol.
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Depois de uma exitosa carreira, hora de formar novas jogadoras
A história de Claudinha se assemelha à de muitas mulheres, de todas as regiões do Brasil, que se sentiram despertadas para o futebol e tiveram de superar inúmeros obstáculos para poderem efetivamente se realizar no esporte. O que certamente há de diferente é que ela ao menos não enfrentou resistências na própria família. Pelo contrário. Os pais e os irmãos sempre a apoiaram. O que talvez dificultou é que ela cresceu em uma época na qual se entendia que praticar futebol profissionalmente não era coisa para garotas. Nasceu em 1979, e a modalidade foi regulamentada para mulheres em 1983, mas, obviamente, foram necessários muitos anos para que se superassem adversidades.
Seus pais, Iara Maria da Silva e José Adair da Silva, residiam no Bom Jesus. Seu Adair era árbitro de futebol, de maneira que Claudinha sempre teve contato direto com esse universo. Ao lado dos oito irmãos, três meninos e cinco meninas, das quais três igualmente atletas convictas, e ainda de primos e amigos da redondeza, correr atrás de uma bola era a brincadeira predileta. Morou ali até os 12 anos, e depois se transferiram para o Harmonia. Já adulta, investiu na formação, graduando-se em Administração de Empresas pela Unisc, em 2016. E desde 2012 é servidora pública municipal, lotada na Secretaria de Educação. Mas nunca deixou de jogar futebol, como zagueira, ou ainda futsal, no qual é fixa ou pivô.
E foi com esse empenho que, já com 37 anos, submeteu-se à peneira no Inter. Nessa decisão, teve o apoio do companheiro, Paulo da Rosa, e também do filho deles, David Rafael, que, por sinal, aos 19 anos, também foi meia-atacante no Avenida. Em paralelo às atividades no Periquito, ela igualmente se dedica, hoje, a fomentar a carreira de novas atletas com categorias sub-11 e sub-15 em sua própria estrutura, a Escolinha da Claudinha, com treinos de futsal às quartas-feiras no Ginásio do CIEE, entre 18 e 19 horas para a sub-11 e entre 19 e 20 horas para o sub-15. Em campo, para adulto, as atividades ocorrem no campo da Compassul.
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A satisfação por ver mais atletas conquistarem espaços em clubes
Com a consciência de ser uma das pioneiras, e de ter persistido em seguir atuando, Claudinha diz ver com satisfação e orgulho outras meninas da região trilharem o caminho da realização no futebol. Em muitos casos, são garotas que começaram a praticar e a treinar em sua escolinha ou nas categorias de base do Avenida, e que já conquistam seu próprio espaço.
Ela cita a santa-cruzense Camila Tostes, que disputou a Copa do Brasil pelo Coritiba, e ainda Júlia Kist, que praticou o futebol feminino nos Estados Unidos e hoje está radicada em Porto Alegre, onde joga futsal. Fran Barbosa, que defendeu o Brasil de Farroupilha, hoje mora em Portugal. Já Vanessa Kemmer está no Vidal Pro, de Porto Alegre, e Emilyn Haas integra o elenco de base do Inter. “Hoje ela está com 17 anos, mas desde os 12 treina comigo”, salienta Claudinha.
Vanessa disputa o Gauchão pelo Vidal Pro
O incentivo de Claudinha e a experiência no Avenida foram determinantes para que Vanessa Kemmer, 30 anos, tivesse a sua primeira oportunidade de disputar o Gauchão feminino. Ela integra o elenco do Vidal Pro, de Porto Alegre, na competição que está sendo realizada atualmente, atuando como atacante. Nascida em São Carlos (SC), com 8 para 9 anos mudou-se com a mãe, Lúcia, e as irmãs Terezinha e Luciane para Venâncio Aires, quando da perda de seu pai.
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Foi em Venâncio, onde estudou na escola Crescer, que se interessou pelo futebol. Mas só aos 18, ao se fixar em Santa Cruz, na companhia do marido Jurandir Foletto, natural de Planalto (RS), que finalmente apostou nessa paixão pelo esporte. Claudinha foi quem a acolheu para seu grupo de atletas, primeiro no Santa Cruz e, mais recentemente, no Avenida. “A Claudinha merece todos os elogios!”, frisa.
Do esposo, e depois da filha Stefhany, de 11 anos, recebeu total apoio para que persistisse em sua vocação para ser futebolista. Na cidade e na região, disputava torneios (também com o Flamengo) e refinou seu estilo. Com a oportunidade de atuar pelo Vidal Pro, no Campeonato Gaúcho de 2023, o que era um sonho virou uma realidade desafiadora.
Em Santa Cruz, ela trabalha junto ao Supermercado Miller, hoje na filial do Arroio Grande. O que poderia ser um empecilho, conciliar o emprego no supermercado e os treinos e os compromissos nos gramados, acabou por trazer a surpresa do total apoio: o Miller não só a incentiva como a patrocina para o mundo esportivo.
Durante a semana, de segunda a sexta, Vanessa trabalha no supermercado, em Santa Cruz. No sábado pela manhã, ruma a Porto Alegre, para os treinos preparatórios e as partidas pela competição estadual. No fim de semana, a equipe jogou em Bagé, no Estádio Estrela D’Alva, contra o Guarany, daquela cidade, e garantiu os primeiros três pontos, com a vitória por um a zero.
Na estreia, no dia 30 de julho, em seus domínios (mandam seus jogos no campo sintético do Estádio Francisco Noveletto, do São José, no Passo da Areia), acabaram sendo derrotadas pela forte equipe do Juventude, de Caxias. Na segunda partida, perderam para o Futebol Com Vida, de Viamão.
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Mas nada que abale a confiança e a certeza de estarem fazendo história. “Estou muito feliz em poder estar jogando, e realizando meu sonho”, comenta Vanessa. “A cada dia mais vamos nos entrosando, e com certeza vamos estar muito mais competitivas logo, logo.” Ela também diz acreditar que o projeto montado pelo Vidal Pro tende a ter longevidade, em um esforço que está sendo levado muito a sério.
Emilyn Haas saiu de Santa Cruz e hoje defende a equipe do Inter
Outra santa-cruzense que encontrou em Claudinha o apoio para persistir no futebol é a jovem Emilyn Thauane Schweickhardt Haas. Aos 17 anos, hoje defende as categorias de base do Internacional, em Porto Alegre, onde atua como zagueira e volante. Treinos e jogos ela concilia com os estudos no Instituto Estadual Professora Gema Angelina Belia, no Jardim Carvalho, zona norte da capital.
Ela nasceu no Bairro Santo Antônio. Visita a terra natal a cada três meses. Por aqui seguem sua mãe, Evelyn, e os manos Ketlyn, 18, e Benjamin, 5 anos. O pai, Paulo Haas, reside em Pinheiral. Conforme ela, da família teve total apoio para que perseguisse o sonho de jogar futebol. Cita em especial os avós, seu Nilsomar e dona Eva, que a incentivam. Ela passou a ter contato com a escolinha de Claudinha aos 12 anos. Aos 14, já estava em Santa Catarina, atuando no Chapecoense/Adell, vinculado à Chape. Permaneceu um ano por lá.
Então veio a transferência para Porto Alegre, integrando-se à equipe feminina do Grêmio, na qual ficou entre março e setembro de 2022. Quando veio a dispensa desse clube, surgiu o convite do rival Internacional, no qual fez teste e foi aprovada. Lá está desde setembro, e já pôde disputar competições como a Copa Nike. Como ressalta, o futebol é seu projeto de vida. E, com o incentivo da família e desfrutando de estrutura de clube que disputa a Série A1 do Brasileirão Feminino, ela tem todo o direito de sonhar muito alto!
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