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O fenômeno WhatsApp

O renomado médico e escritor J.J. Camargo escreveu recentemente: “Há uma incontrolável ânsia de usar todos os instrumentos de aproximação virtual para conectar pessoas que foram convivas em épocas tão remotas que o tempo se encarregou de borrar-lhes a lembrança.

O convite para que participasse de um grupo de WhatsApp que devia reunir todos os sobreviventes de um tempo de colégio me pareceu desde logo assustador. Não conseguia imaginar como recuperar uma intimidade necessária para justificar a reaproximação depois de, sei lá, 55 anos, só porque esta prática virou uma febre (passageira?) na internet. O desespero aumentou quando fomos comunicados de que todos os abaixo listados estavam automaticamente incluídos no grupo, e eu só lembrava bem de uns cinco de uma turma de 50.”

Digo eu. Pois é: o Whats se espalhou e se mostrou útil. Todavia, trouxe consigo um monte de inconvenientes, para se dizer o menos. A começar pelo dilúvio de fakes, informações irrelevantes, calúnias, ofensas e até coisas risíveis. Na pressa de digitar, a pontuação foi uma das vítimas. Exemplo: eu estava viajando e mandei uma mensagem para minha empregada que mora em São Leopoldo e vem trabalhar em Porto Alegre, perguntando se ela ainda estava na minha casa. Resposta: “não estou no trem”. E agora: “não, estou no trem”; ou “não estou no trem”?

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Outra situação. Às vezes se é convidado para entrar num grupo que, por exemplo, gosta de jogar tênis e marcar horários. Pronto: em seguida meu aparelho se enche com mil “bom dia”, informações sobre frutas que fazem mal, frutas que fazem bem, malefícios do vinho, benefícios do vinho e por aí vai. Resultado, achei mais prático contatar direto com os parceiros e saí do grupo.

Aí entro no assunto das amizades virtuais e, desde já, adianto minha tese. A amizade, como diz o nome, é virtual; pois que fique nessa esfera. Querer reunir o grupo para uma janta vai resultar, depois das saudações de praxe, em ensurdecedores silêncios.

Mas o que me provocou frouxos de risos foram as recentes eleições. Tsunamis de denúncias contra o Bolsonaro, outros contra o PT e as esquerdas, um caos total que acabou resultando em brigas entre até pessoas da mesma família.
Volto, agora, ao assunto dos grupos. Penso que são inviáveis os grupos com exagerado número de participantes. Ninguém aguenta ler tanta coisa a cada cinco minutos.

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Quanto aos reencontros com amigos que não se viam há décadas, todo cuidado é pouco. Melhor é distribuir crachás, com letras bem grandes e vigiar a boca. Nada de “como tu tá velho”, “bah… como tu tá gordo”.

TI

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