Não é de hoje que eu fui engolida pela hallyu, a onda coreana. Em 2016 fiz um curso sobre o cinema coreano e descobri que toda a estrutura cultural desse país do leste asiático é singular. Desde então nutri uma curiosidade sobre tudo que vem da Coreia do Sul. E não só eu, parece que nos últimos anos o mundo inteiro passou a descobrir esse país de pouco mais de 50 milhões de habitantes. Em 2012, Psy estourou no mundo inteiro com o hit Gangnam Style, abrindo caminho para alguns anos depois o grupo BTS dominar a parada principal da Billboard, durante dez semanas seguidas, com o sucesso de Butter e discursar na Assembleia Geral da ONU essa semana. A influência do K-Pop e seus inúmeros grupos com videoclipes coloridos, músicas que transitam por diversos gêneros e multidões de fãs vem moldando a música que consumimos de forma global nos últimos anos.
Os ocidentais viram a ascensão do cinema coreano ganhar não só quatro estatuetas do Oscar de 2020 com Parasita, de Bong Joon Ho, mas ser o primeiro filme de língua não inglesa a ser escolhido como melhor filme. Durante a pandemia, as séries coreanas conhecidas como k-dramas se tornaram as mais assistidas na Netflix na maioria dos territórios onde o serviço opera. Lançamentos como Crash Landing on You e Vincenzo foram as produções mais assistidas em diversos países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos, este último um mercado geralmente avesso a produções em outros idiomas. O país asiático está até mesmo dentro de nossas casas com inúmeras marcas como Samsung, Hyundai, LG e Kia.
Mas essa invasão coreana não vem de hoje. Na verdade é fruto de um investimento massivo em educação a partir da década de 1980, e em cultura após a crise econômica de 1998. O governo da Coreia do Sul criou em 2005 um fundo de investimentos voltado apenas ao k-pop. Pulamos para 2020 quando apenas o BTS, o maior desses grupos em número de fãs e vendas globais, rende diretamente cerca de US$ 3 bilhões à economia do país. Isso sem falar na influência que todas essas obras e artistas geram em outros setores. Desta forma, os cosméticos, eletrônicos, a comida, a moda, a literatura e demais elementos se tornam alvo de desejo para pessoas em outros países. Aprender o idioma coreano, por exemplo, para melhor compreender a música e as produções audiovisuais, é uma febre entre os brasileiros. Confesso que até eu tenho me arriscado a aprender o alfabeto hangul. E como a maioria dos fãs, sonho em visitar Seul para conferir de perto essa cultura pela qual me apaixonei. Parece, no entanto, que não estou sozinha, já que o turismo do país triplicou nos últimos 15 anos.
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Temos testemunhado no Brasil nos últimos anos uma desvalorização sem precedentes da cultura e seus trabalhadores, e a educação do País está sendo sucateada sob nossos olhos. Eu acredito na força da cultura e da arte, não só na formação de melhores seres humanos, mas para que tenhamos um país próspero e bem posicionado no cenário global. Acredito também que temos muito a aprender com os exemplos da Coreia do Sul, um país com território e recursos limitados, que enfrentou guerras e conflitos no último século e hoje desponta no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano. Com todas as riquezas e vantagens que o Brasil possui, onde estaríamos se houvesse aqui também um investimento em educação e o desejo de valorizar e exportar nossa exuberante cultura nacional?
Tudo isso sobre as boas experiências na Coreia do Sul para dizer que com a vacinação em massa e o retorno dos eventos presenciais, finalmente a cultura da nossa região está podendo dar um respiro. Após dois anos prendendo a respiração e sufocando lentamente, lutando para se manter à tona, nossos artistas podem abrir exposições, fazer shows, apresentações e lançamentos de livros. Como uma jornalista que cobre eventos culturais e como uma artista que também luta para mostrar seu trabalho, sempre vou ser uma paladina em defesa das artes. Aos colegas artistas: contem comigo para divulgar seu trabalho. Ao público consumidor de arte: precisamos de você mais do que nunca. Respeitando todos os cuidados necessários, vá aos eventos, compre os ingressos e os livros e ajude a categoria que tanto ajudou a todos nós durante esses meses sombrios de isolamento e reclusão que finalmente estão chegando ao fim.
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