O equívoco de Bruno

Foi uma cena atípica até para o cotidiano dos tribunais das redes sociais, quase sempre implacáveis. Um menino de 9 anos, torcedor do Santos, postou vídeo no Instagram para fazer uma retratação pública na terça-feira. Desculpou-se por ter cometido um erro terrível e prometeu que aquilo não iria se repetir. 

No domingo passado, logo após o fim do jogo entre Santos e Palmeiras na Vila Belmiro, Bruno do Nascimento – que é santista – pediu e ganhou de presente a camisa do goleiro palmeirense, Jailson. O Santos havia acabado de perder por 2 a 0, e o garoto estava com seu pai nas arquibancadas da torcida quando Jailson, de quem ele é fã, aproximou-se e entregou a roupa.

A reação de alguns torcedores santistas que estavam por perto foi a pior possível. Revoltados, insultaram a criança aos gritos, cuspiram em sua direção, desferiram chutes. Bruno e o pai, Moisés, tiveram de sair do estádio escoltados pela Polícia Militar.

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Na terça, o garoto postou o vídeo em que dá explicações. “Me perdoa se alguém se ofendeu. Eu não sou palmeirense, eu sou santista, é que eu gosto muito do Jailson.” Bruno ainda sugeriu que devolveria a camisa “pra não me baterem nos jogos”. Após o episódio no estádio, de acordo com o pai, ele havia recebido até ameaças de morte nas redes sociais.

A situação toda é desconcertante. Um menino de 9 anos, fã de futebol, é hostilizado por parte da torcida do seu time porque é incapaz de tratar o rival como inimigo – é uma criança, afinal, ainda não “cresceu” o bastante para sentir tanta raiva. Dois dias depois, constrangido e com medo, pede desculpas aos que se sentiram “ofendidos” por sua conduta civilizada demais.

Mas justiça seja feita ao Santos: o repúdio ao ocorrido veio rapidamente, com nota oficial do clube e manifestações de jogadores, inclusive de outros times, em apoio ao garoto. Até o Pelé se solidarizou. Menos mal. É preciso reagir a essa estupidez beligerante que empesteia as relações humanas, e não só em estádios. Se Bruno voltará tão cedo à Vila Belmiro depois disso, não se sabe. Nem se haverá uma boa resposta ao questionamento de Moisés, o pai: “Como vou poder ensinar meu filho a respeitar quem pensa diferente dele?”.

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