No ano de 2021, o endividamento das famílias brasileiras chegou a quase 71%, maior índice já registrado no Brasil. Comparado ao ano anterior, houve aumento de 4,4 pontos percentuais. Os números são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Apesar de já ser alto, a verdade é que o percentual de famílias endividadas deve ser ainda maior, levando em conta que a pesquisa não capta as pessoas que não têm contas em bancos. Além disso, as pessoas não consideram como dívidas o consumo de energia elétrica, gás ou água ou, mesmo, a compra com o cartão de crédito etc., enquanto ainda não foram apresentadas as respectivas faturas. Como explica a economista e pesquisadora da CNC, Izis Ferreira, o endividamento é todo e qualquer compromisso financeiro do futuro, como cartão de crédito, empréstimos, contas de água e luz, condomínio, prestações, etc. Já a inadimplência ocorre quando o consumidor possui dívidas em atraso.
Segundo o levantamento da CNC, dentre as várias categorias de dívidas, o cartão de crédito chegou a 82,65%, sendo o principal tipo de endividamento e, também, o maior número na média histórica. Depois, seguem as dívidas com carnês (18,1%), financiamento de carro (11,6%) e financiamento de casa (9,1%). Geralmente, são listadas várias causas para esse endividamento. O principal, certamente, é o desemprego. Sem renda, é preciso apelar para o endividamento para atender a demandas mais básicas, como alimentação e moradia. Mas, apesar da volta de empregos, os salários tem sido menores, levando à precarização do mercado de trabalho, com exceção de algumas atividades mais especializadas, principalmente na área de tecnologia, que oferecem remuneração acima da média.
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Mesmo quem não perdeu o emprego ou, a duras penas, manteve a atividade autônoma durante o período mais agudo da pandemia, não consegue reposição salarial ou reajuste de serviços em linha com a inflação. De acordo com Guilherme Moreira, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), “em três anos, perdemos 21% do poder de compra.” Há três anos, a inflação já vinha se manifestando, no Brasil, principalmente com os itens de alimentação. Em meados do ano passado, os aumentos dos combustíveis e conta de luz se juntaram aos alimentos e fizeram a inflação subir de patamar, em função da alta do dólar e utilização de energia elétrica geradas por usinas termelétricas, muito mais cara, devido à redução da oferta de hidrelétricas, prejudicadas pela falta de chuvas.
Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, em função da globalização, os efeitos econômicos são percebidos em quase todos os países, inclusive no Brasil, extrapolando os preços de alguns produtos. Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha são alguns dos países que estão tendo inflação não sentida há muitos anos, embora menor que a do Brasil.
Se de um lado temos uma inflação que empurra os preços cada vez mais para cima, e, de outro, rendas e salários “congelados” ou até diminuídos, o resultado é um poder de compra do brasileiro cada vez menor, forçando compras a prazo e atraso de contas. Qual a saída? Uma delas é renegociar as dívidas. Entre os dias 7 e 31 de março, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) está promovendo, em parceria com o Banco Central do Brasil, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e Procons de todo o país, o Mutirão Nacional de Negociação de Dívidas e Orientação Financeira. A iniciativa quer não só contribuir para o reequilíbrio orçamentário das famílias, mas, principalmente, promover educação financeira, que é fundamental para que o consumidor consiga evitar novo endividamento.
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Os mutirões de renegociação de dívidas, realizados há alguns anos, têm resolvido o problema pontual de milhares de consumidores, mas não tem evitado que 60% deles voltem a se endividar novamente, em, no máximo, dois anos. O fato é que se criou um conceito negativo para o endividamento. Dívidas não deveriam ser um problema, pelo contrário, são dádivas para realizar sonhos. Por exemplo, poucas pessoas teriam dinheiro suficiente para comprar à vista uma casa própria ou uma moto, quem dirá itens de menor valor, como móveis, eletrodomésticos, etc. A dívida do financiamento é a forma de realizar um sonho.
Aliás, todo mundo tem dividas: o Governo Federal, quando vende títulos públicos, assume uma dívida com investidores; da mesma forma, os bancos que recebem para investimento o dinheiro de clientes; o consumidor que compra para pagamento com o cartão de crédito, boleto, carnês ou ainda o cheque pré. Mesmo a pessoa que diz comprar tudo à vista, também tem dívidas: enquanto ela vai usando energia elétrica, por exemplo, ela está constituindo uma dívida com a distribuidora; ou, então, morando num edifício ou condomínio fechado de casas, está incorrendo em despesas comuns que, em algum momento, vão gerar algum documento de cobrança.
O problema das dívidas é perder o controle delas, não conseguindo pagá-las. A pessoa fica inadimplente, com o nome sujo, o que, muitas vezes, é positivo porque evita fazer novas dívidas e aumentar o problema. Aproveitar uma campanha de “limpa nome”, mas não conseguir honrar os compromissos assumidos, leva o consumidor a começar tudo outra vez, mas em situação pior. Está faltando educação financeira que, além de algumas técnicas – pesquisar e cotar preços, saber fazer alguns cálculos, preparar um orçamento – é uma ciência comportamental que visa mudar o modelo mental, voltada para o consumo consciente. A partir de um diagnóstico financeiro que mostra o quanto a pessoa ou família recebe de renda e onde é gasto cada centavo, é possível saber o quanto de renda já está comprometido. Com esses números bem ajustados, antes de fazer uma nova compra, o segredo é verificar o quanto da renda está disponível, descontados os valores já comprometidos com dívidas e os necessários para os gastos essenciais.
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