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O drama dos funcionários públicos ao viver com R$ 350

Há um ano e meio, funcionários públicos têm convivido com o parcelamento dos salários adotado pelo governo do Estado em razão da crise financeira. Os depósitos a conta-gotas têm desencadeado uma avalanche de protestos dos servidores, sem falar nas dificuldades para quem depende da remuneração integral para as necessidades básicas. Na última quinta-feira, o Piratini anunciou que pagaria apenas R$ 350,00 – o menor valor desde a implantação da medida.

Servente de escola há cinco anos, Elisângela Rodrigues da Silva, de 37, recebeu essa quantia. Casada e com dois filhos – uma menina de 6 e um garoto de 14 – ela disse que consegue quitar somente as taxas de água e energia elétrica e uma prestação de roupa. “Me ligaram da loja porque já tinha vencido há uma semana. Falei que iria pagar na hora que ele (governo) nos pagasse”, comentou.

O auxílio do marido, que é caminhoneiro, se tornou fundamental para o sustento da família. “Se não tivesse ajuda, não sei como ficaria. Estou bem revoltada”, lamentou Elisângela, acrescentando que outros membros da família passam pela mesma situação. “Tenho um cunhado e uma cunhada que são agentes penitenciários. A ficha só caiu domingo, quando estávamos conversando.”

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De acordo com a servente, não há qualquer possibilidade de pedir empréstimo bancário devido aos juros elevados. “É muito triste isso. Trabalhamos e temos direito de receber em dia. O governo tinha que dar prioridade para os professores e servidores da segurança pública, que estão sempre na luta. Os filhos não querem saber de parcelamento”, sublinhou. Conforme Elisângela, é desmotivante trabalhar por R$ 350,00. “Não se tem vontade, mas eu penso na escola, nos alunos e nos colegas. Como querem dar uma boa educação se não valorizam?”

A professora de anos iniciais Márcia Rosilene Schulz, 53, tem 30 anos de magistério, 20 só no Estado. A aposentadoria na rede pública municipal lhe garante uma renda de aproximadamente R$ 2 mil mensais, mas ela ajuda o filho de 23 anos e se mostra solidária à classe. “A aposentadoria é uma válvula de escape, mas foi uma tristeza que bateu no dia 31, quando vimos que iríamos ganhar esse valor. Tu não és valorizado. Tu és cobrado para fazer coisas fora do colégio, para atingir índice, só que não investem nada. O piso nacional, então, nem se fala”, desabafou. “É um descaso total. A alimentação tem que estar na mesa. Como fica uma família com vários filhos. Ele (Sartori) disse para buscarmos o piso na Tumelero, mas não o parcelamento de salários.”

“O salário só quita os juros”

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Um jovem soldado da Brigada Militar de Santa Cruz do Sul relatou que a parcela de R$ 350,00 representa apenas 20% do valor da prestação da casa financiada. Para pagar a mensalidade de R$ 1,6 mil da moradia, que mantém com a esposa, ele precisou recorrer mais uma vez ao limite bancário. “O salário, quando pago, é somente para quitar os juros”.

O valor repassado aos servidores na primeira parcela, segundo o policial que prefere não ser identificado, é inferior ao gasto mensalmente com transporte até o trabalho, que fica em torno de R$ 480,00. “Às vezes esse valor aumenta. Com operações e ocorrências fora do horário. Tem que se deslocar de madrugada de carro”. Ainda é preciso arcar com a alimentação durante o expediente. 

Para o soldado, a sensação é de revolta. “É um desrespeito com o servidor público. Imagina quem tem filhos que dependem desse salário”.  Não perder a motivação, garante, é um desafio diário. “Mantemos nosso trabalho com dignidade porque honramos nossa farda e o juramento que fizemos. Mas com certeza fica muito difícil mantermos a mesma vontade e ânimo para desempenhar a função.”

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