O dragão dentro da garagem

Não é porque alguém acredita ou deseja acreditar em alguma coisa que ela vai se tornar verdade. Mesmo assim, não faltam vendedores de remédios imaginários para graves problemas reais, de falsas soluções que só agravam o que já está péssimo. Não há evidências de que o produto vai funcionar, não existe nenhuma comprovação prática, mas os vendedores insistem. Pois sempre tem alguém disposto a acreditar e comprar.

Mais de 600 mil brasileiros já morreram em decorrência da Covid-19. Entretanto, para outros brasileiros ainda vivos, a grande ameaça, o risco mais assustador é justamente a vacina contra a doença – mesmo que eles não conheçam ninguém que tenha morrido porque se imunizou. O mais provável é o contrário.

Quando o cientista norte-americano Carl Sagan (1934-1996) escreveu um dos últimos livros, O mundo assombrado pelos demônios, ainda não havia redes sociais, “pós-verdade” e notícias falsas como fenômeno de massa. E é desanimador constatar o quanto os temores de Sagan em relação à corrosão do debate público por afirmações irracionais, crédulas ou mentirosas se confirmaram – justamente numa época em que temos tantos meios de checar o que é fraude ou não.

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Os “demônios” de que Carl Sagan fala são antigos: o discurso anticientífico, os fanatismos, preconceitos e superstições. Eles têm tanto fundamento quanto o dragão dentro da garagem. A história (contada por Sagan) é esta: um vizinho vem dizer que há um dragão na garagem dele. Você, é claro, se interessa em vê-lo. “Infelizmente, ele é invisível”, responde o outro. Certo. Mas e se eu passar a mão nele para sentir como são as escamas? “Não, ele é intangível.” Hum, que estranho. Bem, e se nós o borrifarmos com tinta vermelha? Será que não vai ficar visível? “Não, veja bem, trata-se de um dragão incorpóreo.”

A essa altura, já dá para perceber que não existe nada. Se o monstro não pode ser verificado de forma nenhuma, se o único indício de sua “verdade” é pura imaginação – ele não existe. Esse é o risco que surge quando a fé cega ignora todo tipo de evidências: passamos a acreditar até em dragões de estimação.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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