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‘O distanciamento dentro das famílias é um fato’

Fiquei impactado com uma reportagem que li em um jornal no fim de semana passado. Tratava de levantamento inédito sobre a incidência de tentativas de suicídio e de casos de automutilação entre alunos da rede estadual. Os números são estarrecedores.

Das 1.622  mil escolas estaduais que responderam ao questionário, 357 relataram 1.015 situações de automutilação. Outras 101 confirmaram 169 tentativas de suicídio e seis mortes por suicídio, somente entre janeiro e junho de 2018.

O relato de psicólogas e funcionárias de escolas é chocante. “A questão afetiva é muito séria. O relato deles é de se sentirem filhos fantasmas dentro de casa. Lamentam jamais terem recebido um abraço do pai ou da mãe ou nunca terem ouvido uma palavra de incentivo”, afirma uma das especialistas, que trabalha em uma escola de Capão da Canoa.

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A alternativa de solução urgente para o fenômeno foi buscar parcerias com universidades, psicólogos e psiquiatras voluntários e ONGs dedicadas ao tema. O Litoral Norte é a região que reúne a maior quantidade de automutilações relatadas – 89 no total –, sendo 20 em uma única escola de Imbé.

O psiquiatra Christian Kieling, da Ufrgs, revela que os pais também estão se sentindo excluídos pelos filhos ao serem trocados por aparelhos digitais, como celular e televisão. Sem sucesso na conversa, deixam de tentar contato, tornando o ciclo vicioso. “Muitas vezes, só conseguir compartilhar com alguém o que está sentindo pode ter um efeito bastante importante para o indivíduo que precisa falar”, explica o especialista.

O mundo moderno, marcado por apelos tecnológicos, de exibicionismo nas redes sociais e constante aparência de “felicidade plena”, cobra um preço elevado. O distanciamento dentro das famílias é um fato. Nota-se enormes dificuldades para encontrar um link para despertar o diálogo fundamental dentro de casa e reverter a situação.

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Recebo inúmeros jovens em minha casa que participam de churrascos e encontros com meus filhos. Constato os problemas de comunicação, de filhos que há meses sequer trocam um “bom dia” com os pais, capaz de embalar um diálogo. Alguns, conhecendo a sinceridade que permeia minha relação com a Laura (24 anos) e Henrique (22), pedem conselhos, perguntam como fazer para se aproximar do pai ou da mãe.

Cada caso tem nuances próprias, mas o traço comum é o isolamento que marca o mundo atual, onde o contato pessoal tornou-se raridade. Bate-papos no jantar ou na hora da novela foram substituídos por mensagens de WhatsApp. Entre adultos, aquela ligação telefônica de “feliz aniversário” virou uma curtida e comentário no Facebook.

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