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Happy Hour

O diretor de teatro

Como já me reportei nas crônicas sobre minhas vivências no interior, numa dessas histórias relembrei que na infância acalentava o sonho de me tornar um músico ou algo que me levasse a ter contato com o público. Sonhos de criança. Ainda bem que não tive a oportunidade de me tornar um músico. O mundo se livrou de mais um artista frustrado. Há males que vêm para o bem, reza o velho ditado.

Na adolescência fiquei órfão na década de 60. Tive que ir à luta. Arrumei um emprego de cobrador de uma entidade sindical. Ganhava o suficiente para pagar os estudos no São Luís e cursava o Técnico de Contabilidade. Que fase maravilhosa essa da minha vida! Os meus colegas eram todos batalhadores e certamente se deram bem na vida profissional.

Nesse curso, descobri minha vocação de professor. Como tinha facilidade em matérias técnicas e Língua Portuguesa, ajudava meus colegas com dificuldade de aprendizado e que tiravam notas baixas nas provas. Repassava o conteúdo das matérias àqueles que estavam fracos.

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Um dos sonhos de infância foi realizado. Consegui ter contato com o público, tornando-me professor de Língua Portuguesa, experiência inesquecível e que continua me proporcionando momentos felizes. Os alunos, hoje pais de família, quando me encontram, relembram experiências positivas que vivenciamos juntos no passado. 

No tempo que lecionei no Polivalente, na década de 80, havia poucos alunos no noturno. Nas horas de folga, auxiliava os jovens que estavam ensaiando um texto de uma peça teatral que seria apresentada em um festival entre as escolas da cidade, cujo anfitrião era o Colégio Sagrado Coração de Jesus.

Para nossa frustração, não fomos classificados entre os melhores naquela noite do festival. Desafiei a turma: fundaremos um grupo teatral de verdade, que se apresentará em toda a nossa região. Mostraremos à comunidade que temos condições de fazer um ótimo trabalho, mesmo que sejamos um colégio estadual da periferia.
 
No dia seguinte, entrei em contato com o falecido J. Paulo Rauber Filho, que tinha larga experiência com o Grupo de Amadores Teatrais Independente, o Gati, que já havia sido extinto. Emprestou-nos o texto de Anselmo Domingos, intitulado Cem Gramas de Homem, com 26 páginas mimeografadas. Tratava-se de uma comédia que fizera sucesso com o seu antigo grupo. A esposa do Paulo, Gilda Rauber – que infelizmente nos deixou ontem –, também fazia parte do elenco, cuja direção era de Schneider Filho.

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Confesso que não entendia e jamais havia atuado em alguma peça teatral na minha vida, muito menos meu colega Hilário Tornquist, professor de Matemática. O que não nos faltava era força de vontade e perseverança. 
A estreia se deu no pátio do Polivalente. Foi um sucesso! Os professores e a comunidade escolar vibraram com a apresentação. Os atores, apesar de extremamente amadores, deram conta dos seus papéis. O essencial de uma comédia é o riso e isso foi plenamente alcançado.

Graciomar da Silveira, já experiente como diretor artístico, agregou qualidade ao Grupo Teatral Polivalente. Fizemos muitas apresentações em toda a região, inclusive em Porto Alegre. Foram 14 anos de sucesso. Descobrimos vários talentos. Alguns seguiram a profissão, destacando-se Simone Bencke e Patrícia Vilela.

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