No último dia 1º de outubro, o calendário de eventos anuais marcou, ainda longe de justas celebrações, o Dia Internacional do Idoso. A data foi criada pela ONU, em 1991, para lembrar dos direitos dos idosos e criar espaços de debate sobre a importância de preservar o respeito e a dignidade dessa população.
No Brasil, até 2006 a data era celebrada no dia 27 de setembro. Com a criação do Estatuto do Idoso, em 01/10/2006, conforme lei nº 11.433, de 18/12/2006, foi adotado o dia 1º de outubro para lembrar os idosos. O objetivo é garantir a preservação da saúde física e mental das pessoas com mais de 60 anos, além de criar prioridades, como atendimentos especiais e transporte público, e regras para o funcionamento dos abrigos para idosos.
No Brasil, inventam-se – e não é de hoje -, cada vez mais armadilhas e golpes para enganar as pessoas. E os idosos são vítimas constantes e preferenciais, quer pela sua fragilidade física, quer pela falta de conhecimento ou entendimento, sendo induzidos a assinar contratos de financiamentos e outros documentos que podem comprometer seus dias de velhice. O que levaria, por exemplo, uma pessoa idosa a liberar para um filho ou genro, sabe-se lá sob que argumentos, talvez até com chantagem, e sem contrapartida, parte de uma herança de imóvel em usufruto, constituída, justamente para garantir-lhe uma velhice tranquila, se não a boa fé? Sem avaliar possíveis consequências de seu ato, no futuro, afinal, trata-se de um familiar querido, quando essa pessoa idosa mais precisar, aqueles para os quais abriu mão de seus direitos podem lhe virar as costas ou simplesmente a ignorá-la.
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Conforme balanço divulgado pela Agência Brasil, em 12/06/2019, o número de denúncias de violência contra idosos aumentou 13%, em 2018, e que 52,9% dos casos foram cometidos pelos filhos. As violações mais comuns foram a negligência (38}%); a violência psicológica (26,5%), configurada quando há gestos de humilhação, hostilização ou xingamentos; e a violência patrimonial que ocorre quando o idoso tem seu salário retido ou seus bens destruídos (19,9%). A violência física figura em quarto lugar, estando presente em 12,6% dos relatos levados ao Disque 100.
Felizmente, o Dia Internacional do Idoso também mostrou iniciativas positivas. Em São Paulo, foi realizado o simpósio da Longevidade Expo+Fórum que coincidiu com as celebrações do dia 1º de outubro. Discussões em torno do potencial de consumo dos longevos e o impacto da longevidade para o Brasil. O economista e filósofo, Eduardo Giannetti da Fonseca, disse que “precisamos entender a transição demográfica pela qual estamos passando no mundo e especialmente no Brasil. Para mim, o acontecimento mais importante da nossa geração de brasileiros é essa transição, que resulta de três vetores poderosos de mudança: explosão populacional, queda da taxa de fecundidade e aumento da expectativa de vida. A longevidade, portanto, é uma conquista humana de viver mais e almejar viver melhor”.
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Na diversidade de assuntos abordados na Expo+Fórum, a atriz Eva Wilma disse que “as artes, tais como cantar, dançar e todas as suas versões, têm uma importância vital para nós, pois permitem uma sensação de felicidade e são formas de expressão e possibilidades de socialização”.
Sob a perspectiva da geriatria, o Dr. Luiz Roberto Ramos sugeriu que “não podemos delegar a responsabilidade de como vamos envelhecer. Precisamos fazer atividades físicas, cuidar da nutrição e manter a socialização”. Já a psicóloga Márcia Célia Abreu afirmou que “a flexibilidade e a resiliência são chaves neste momento da vida”.
Na Expo+Fórum também foram apresentadas novidades para os longevos, como empresas de turismo que atuam de forma diferenciada para esse público, novos equipamentos terapêuticos, opções de alimentação e suporte para as atividades do dia a dia, o que inclui cuidadores/enfermagem, atividades sociais, de compras e lazer, tudo de acordo com as necessidades de cada cliente.
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Ficar em caso depois da aposentadoria, não tem sido a opção de todos os que já adquiriram esse direito. Por necessidade ou mesmo pela vontade de continuar em atividade, muitos idosos optam por se manter ou retornar ao mercado, como é o caso do titular deste blog. Se antes completar 60 anos era algo negativo, hoje é sinônimo de maturidade emocional desejada pelas grandes corporações. “O mercado de trabalho tem buscado algo além das habilidades técnicas, aquelas aprendidas em livros, cursos e que colocamos em destaque no currículo. As companhias tem buscado profissionais com habilidades comportamentais, chamadas de soft skills e que estão ligadas à inteligência emocional e envolvem competências adquiridas com a vivência de mercado e experiência de vida – fatores que a terceira idade possui de sobra”, explica Lilian Carmo, diretora da Febracis Campinas.
Como exemplo de empresas que estão abrindo espaço para os idosos, o Grupo Cencosul – líder em vendas na América Latina e 4º maior supermercadista do Brasil – mantém o Programa Talentos Experientes, com incentivo à contratação de pessoas com mais de 50 anos. Um senhor de 82 anos, admitido aos 71, confessa que se surpreendeu quando o contrataram, ainda mais para uma função na qual sequer tinha experiência. O relato de gerentes do grupo é de que os colaboradores com mais idade demonstram comprometimento, assiduidade e capacidade de atendimento acima da média.
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O Dia Internacional do Idoso se para muita coisa ainda não serve, pelo menos é uma oportunidade para que as pessoas lembrem que a idade chega para todos, a não ser que a vida seja interrompida bem antes do “prazo de validade médio” e que, com ela, novas possibilidades se abrem, inclusive dificuldades. O importante é envelhecer com qualidade de vida que está associada à vida ativa: busca por hábitos saudáveis como atividade física, alimentação saudável, contatos com familiares e amigos, e manter a mente estimulada com novas atividades. Não há limites para o que o idoso queira fazer, exceto os de sua própria mente. É muito importante, também, mas infelizmente relegado, cuidar de suas finanças, procurando aplicar ou buscando os ensinamentos da educação financeira. Quando for o caso, o papel da família para a qualidade de vida do idoso, além de relevante, está previsto em lei. Nesse sentido, o Estatuto do Idoso, prevê que a família se envolva nos cuidados e na proteção do idoso, “respeitando os seus limites e a autonomia a fim de não cercear sua liberdade e desejos”, explica Renato Bandeira de Melo, médico geriatra e diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Afinal, a maior expectativa de vida precisa estar acompanhada de qualidade de vida.
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