Nascido em Madrid, Jorge Semprún (1923-2011) foi um premiado escritor, roteirista de cinema, político e intelectual espanhol. Morou muito tempo em Paris, onde produziu seus principais livros, roteiros e pensamentos. Socialista convicto e atuante, destacou-se na resistência francesa ao nazismo.
Numa entrevista de 2009, Semprún criticou os políticos (que define como atores por opção política e ideológica) que se fazem de vítimas. Também manifestou grande preocupação com a baixa qualidade representativa e o expressivo crescimento das abstenções populares no processo eleitoral.
Denominava o respectivo período como de lassidão (o que significa cansaço, exaustão, prostração e desinteresse). Dizia: “(…) o maior perigo é a lassidão, o desencanto, a indiferença (…), e esse perigo vem de tudo o que não oferecemos ideologicamente à juventude (…). Oferecemos à juventude coisas que lhe interessam muito (…), mas não lhe oferecemos um projeto comum.”
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Embora à época (2009) já havia sinais eleitorais evidentes, nesta entrevista Semprún praticamente profetizou o que viria a ocorrer ultimamente na Europa e na América Latina, qual seja: o esgotamento da esquerda. “O fim de um ciclo de predominância da esquerda e da social democracia”, disse.
E talvez sua manifestação mais importante: “É paradoxal, pois pode fazer pensar que, num momento de crise global do sistema capitalista, a solução social democrata pode voltar para primeiro plano, a solução reformista equitativa e equilibrada. Mas não, no momento em que mais precisamos, não encontramos. É um fenômeno de grande importância histórica, com um fim muito difícil de prever.”
O expressivo número de abstenções, votos brancos e nulos que nós brasileiros conhecemos nas últimas eleições confirmam a profecia de Semprún: o desencanto popular e, como consequência imediata, a baixa qualidade representativa. Se nossos militantes partidários e líderes político-intelectuais, especialmente, estudassem um pouco mais e, por consequência, refutassem (por princípio e convicção) demagogos e populistas, principalmente, talvez não repetíssemos os erros que a História alheia já demonstrou.
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A predominância da mesmice retórica, da idolatria e dos discursos vitimistas (principais “alimentos” dos demagogos e populistas), em detrimento de abordagens propositivas e consequentes, face à gravidade da situação estadual e nacional, confirma a predileção nacional por demagogos e populistas. Superar essa vocação negativa e histórica é nosso principal desafio!