Quem teve a oportunidade de circular pelo interior de Rio Pardo, Candelária, Pantano Grande, Cachoeira do Sul e algumas outras localidades da região na semana que passou assistiu a um verdadeiro êxtase na atividade produtiva. Os dias ensolarados e secos que antecederam a chuva movimentaram uma imensa e variada frota de tratores, colheitadeiras e maquinário de apoio para colher e armazenar os grãos de soja que se salvaram da cruel estiagem do verão passado.
Dias e noites seguidos, domingos e feriados inclusive, a movimentação nas lavouras e nas estradas segue sem trégua. O descanso fica para depois, quando o ciclo da safra estiver concluído.
Uma realidade muito diferente da que se percebe na maior parte do interior de Santa Cruz do Sul, onde a produção de soja é pouco relevante. Mas nem sempre foi assim.
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Na década de 1960, o então prefeito Edmundo Hoppe implementou um programa ousado para diversificar a agricultura do município, com a introdução do plantio de soja nas propriedades rurais. Muitos produtores aderiram ao desafio, mesmo que em pequenas áreas e em terrenos acidentados e íngremes.
Mas havia um problema: se o preparo do solo, o plantio e o manejo da lavoura podiam ser feitos manualmente, como se operaria o processo de colheita?
Eu ainda era guri, mas lembro bem do debate que se instalou lá em casa em torno do assunto naquela ocasião. Resultou que meu pai e um genro seu – meu cunhado – decidiram comprar uma trilhadeira, acionada por um motor acoplado e que era movimentada de lavoura a outra por uma junta de bois.
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O processo era rudimentar e perigoso. As plantas secas eram cortadas nas lavouras com o uso de foices e facões bem afiados e colocadas manualmente na boca da máquina para o processo de debulha dos grãos.
Sem proteção alguma – óculos e máscara seriam artigos de luxo para aquela situação –, os dois bravos senhores responsáveis por proporcionar a colheita saíam irreconhecíveis ao final de cada processo, com o rosto, as roupas e, provavelmente, os pulmões encobertos e tomados por uma camada de pó e fragmentos das vagens da soja.
Nos dias quentes que prenunciavam a chuva, a jornada era extenuante ao extremo. O descanso se resumia aos curtos períodos de locomoção de uma propriedade a outra e a algumas horas de sono durante a madrugada, quando já não restavam forças para seguir a lida.
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Sinceramente, não sei como meu pai e o cunhado saíram ilesos de acidentes graves após anos de operação do processo de colheita em dezenas de propriedades na região do terceiro distrito de Monte Alverne.
Depois de uma euforia inicial, os agricultores minifundiários foram abandonando o plantio da oleaginosa. Formou-se convicção de que a cultura requeria áreas maiores, que comportassem investimentos adequados para implantação, manejo e colheita das lavouras.
E foi o que ocorreu. Quem circula hoje pelas áreas de produção se depara não mais com trilhadeira puxada por bois, mas vê tratores e colheitadeiras de porte impressionante, com cabines fechadas, sistema hidráulico, GPS e que, entre outros avanços, se integram à tecnologia digital.
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Mas, como em tudo na vida, teria que haver um começo. Só há colheita depois que uma semente for lançada. A pesquisa haverá de se encarregar de aperfeiçoar o processo e multiplicar os índices de produtividade. Assim como a busca por conhecimento nos abrirá novas fronteiras para realização pessoal e profissional. O desafio é começar e acreditar.
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