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O desafio de Helena

Desde que se tornou prefeita, Helena Hermany se deparou com dois eventos imprevisíveis e de grande impacto. Quando nem sequer tinha completado 30 dias de Palacinho, uma enxurrada sem precedentes deixou um rastro de prejuízos e desnudou um déficit estrutural que vai exigir investimentos monumentais. Já em março, a pandemia se acelerou a níveis alarmantes, fez disparar o número de óbitos e levou ao limite o nosso sistema hospitalar.

Quando atingiu a marca simbólica dos 100 dias no mês passado, Helena lançou um amplo pacote de ações e fez promessas para os próximos meses bem mais ousadas do que as que constavam na carta-compromisso assinada na posse. Era uma clara tentativa de dar uma marca à gestão no momento em que o descontrole da crise sanitária consumia o orçamento e as atenções públicas.

Talvez pela forma como a Covid-19 se impôs na agenda dos governantes, ofuscando outras discussões, os méritos deste início de gestão são mais evidentes no campo político do que na seara administrativa. Com uma base de apoio muito bem sedimentada na Câmara, Helena não perdeu uma votação sequer. Mais do que isso, soube captar o espírito da nova geração que ascendeu ao Legislativo e conciliar até os interesses de adversários para criar um ambiente sem hostilidades, em contraste com a beligerância que marcou a fase final da era Telmo. Nos últimos meses, sentouse à mesa com vereadores de oposição e instituiu um conselho de voluntários. Com isso, tenta firmar-se como uma liderança de diálogo.

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Carismática e com um capital eleitoral consolidado em décadas de protagonismo na área social – chegou a afirmar, no discurso de posse, que atender aos mais necessitados não pode ser confundido com assistencialismo –, Helena vem vestindo uma roupagem mais técnica e fez diversos acenos ao setor empresarial. Escolheu entre os comerciantes e não entre os partidos o nome para chefiar a pasta de Desenvolvimento Econômico, vitaminou a política de incentivos fiscais e prometeu avançar em desburocratização. Embora questionada, a decisão de subsidiar temporariamente o transporte público se provou inevitável devido à crise do setor e à inviabilidade de um novo aumento tarifário. O governo também parece ciente de que não há mais como empurrar com a barriga uma revisão profunda de todo o sistema de transporte, que não está mais alinhado com a realidade.

O seu maior desafio, porém, ainda pode estar a caminho. Desde que o governo estadual decidiu lavar as mãos e enterrar o sistema de bandeiras, está no colo dos gestores municipais o controle do enfrentamento ao vírus. Ainda que boa parte dos prefeitos reivindicasse exatamente isso há meses, não se pode ignorar que a pressão sobre eles a partir de agora será redobrada.

Ocorre que uma parcela da comunidade não se mostra disposta a colaborar e parece ter decretado por conta própria o fim da pandemia, o que ficou claro nas aglomerações de pessoas sem máscara registradas no último fim de semana. Situações como essa elevam o risco de uma indesejada terceira onda, como já se anuncia em outras regiões, o que forçaria a adoção de medidas amargas mais uma vez. Isso prejudicaria a todos, sobretudo os cidadãos e empresários que respeitam os protocolos e que, com razão, não engoliriam um novo fechamento.

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Por isso é urgente uma fiscalização bem mais efetiva nas ruas – interromper o trânsito na Avenida do Imigrante não é suficiente – e a retomada das ações de conscientização. Não se trata de uma equação fácil: de um lado está uma calamidade pública e, de outro, demandas de liberdade individual e subsistência econômica. E agora não é mais o governador, e, sim, Helena que terá que se equilibrar nessa corda bamba.

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