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O curioso caso do nazista brasileiro (2)

Em outubro do ano passado, escrevi aqui um texto intitulado “O curioso caso do nazista brasileiro”. Na época, o noticiário trazia vários casos de apologia ao nazismo no Brasil, até mesmo a prisão de um fanático hitlerista no Rio de Janeiro. Não que isso fosse novidade. Mas chamava a atenção o exibicionismo cada vez maior dos extremistas da “pureza racial” em um dos países mais miscigenados do mundo.

Na semana passada, o estranho fenômeno voltou a se repetir. Um vídeo gravado na Biblioteca Mario de Andrade, no centro da cidade de São Paulo, circulou nas redes sociais. Um homem profere frases como: “Eu não gosto de negros, não. Quem gosta de macaco é o zoológico. Se eles prestassem, não seriam discriminados pela sociedade”. Depois aparece junto a uma mesa onde se vê o livro Minha luta, de Hitler. A biblioteca estava repleta de frequentadores, inclusive negros. O autor das ofensas foi preso em flagrante pela Polícia Militar, por racismo.

Claro que ele não correspondia em nada ao estereótipo clássico do Terceiro Reich, o ariano loiro de olhos azuis. Pelo contrário. Era pardo, digamos assim. Do ponto de vista de um nazista “raiz” – um oficial da SS, por exemplo –, negro sem dúvida nenhuma. Provavelmente, não passaria nem pela triagem de um campo de concentração. Então, o que acontece na cabeça de alguém assim?

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É um caso a ser estudado. Fico imaginando o neonazista brasileiro em um congresso internacional da causa, tentando se enturmar com colegas da Áustria ou Noruega, citando o Mein kamp no original para impressionar. Para quê? Os outros vão rir nas suas costas ou tratá-lo com educada reserva. Um ariano schwartz?

Racistas detestam especialmente a miscigenação, pois ela sinaliza a decadência que deve ser evitada a todo custo. Quem viu o filme Loving, de 2016, conhece a história do casal norte-americano Richard e Mildred Loving. Ele branco, ela negra, tiveram de deixar o lar, na Virgínia, porque a lei estadual proibia o casamento interétnico. Uniram-se em Washington, em 1958, onde as normas legais não se preocupavam com a cor dos filhos. Pobre nazista brasileiro, que reivindica uma pureza que não tem e nunca vai ter.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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