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O cruel etarismo

Este ano é emblemático para mim. Farei, em outubro (falo com a convicção de que estarei vivo até lá), 45 anos. É emblemático, porque convencionamos que números redondos e o meio entre entres – no caso, o 5 – são mais especiais do que os demais. É só mais uma forma de estabelecermos “eras”, fases com as quais podemos comemorar ou nos preocuparmos.

Já estou na época em que posso cantar como Chico Cesar, pedindo respeito aos meus cabelos brancos. A verdade é que eles estavam ali, em menor quantidade, claro, desde, como bem lembra Fábio Júnior, os meus vinte e poucos anos.

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Aproximar-se dos 45 é como aguardar o juiz apitar o final do primeiro tempo de jogo. Irei até os 90? Terei prorrogação ou, pelo menos, os acréscimos dados pelo árbitro? Seria justo, afinal, por alguns motivos protelei aquilo que tinha intenção de fazer. Mas é melhor que a analogia ao futebol fique por aqui, pois pode aparecer alguém pedindo revisão de determinado momento no VAR, que é melhor deixar por lá. Medo? Arrependimento? Não. Apenas uma boa dose de juízo e a certeza de que o que se fez foi para aproveitar o momento.

Sandy (aquela do Júnior) chegou aos 30 – uma guria – e disse, em música, ser velha para ser jovem e jovem para ser velha. Me vejo assim, à beira dos 45. Entendo que sou velho para ser jovem, mas estou muito jovem para me considerar velho. Sou uma figura excêntrica no meio da gurizada dançando funk, mas ainda sou visto com olhos de desconfiança no bailinho da terceira idade.

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Criamos rótulos, que nos fazem pensar. Qual a roupa ideal? Será que combina fazer esse tipo de coisa com os cabelos brancos? E os convites que vinham, primeiro eram de debutantes, depois de casamentos, a partir de agora, só de velórios. Os meus heróis, diferentemente dos de Cazuza, podem não morrer de oversdose, mas estão morrendo: Jô Soares, Rita Lee, Gal Costa, Pelé, alguns dos recentes. Das famílias da minha rua, a Euclides da Cunha, na gloriosa Taquari, restam poucos pais – muitos dos filhos seguiram seus rumos para pagos distantes.

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Não. Este texto não é um recurso melancólico pela percepção da chegada da idade. Não vou parar de fazer o que gosto, que é estar pela rua, dançando com amigos, dando risadas e falando besteiras. É apenas uma reflexão momentânea de quem já viu um bocado de coisas e está sempre pronto para ver mais.

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Talvez esse desapego aos rótulos fez não ser um adolescente rebelde, nem ter vivido a crise dos 30, e estar longe de ser um senhor sério dos 40. Quem sabe, como a saudosa Vó Nena, chegue aos 90 dando risadas da vida, falando os devidos palavrões e sem nenhum freio social.

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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