Colunistas

O cortejo de Nélida

“A mão invisível do tempo alvejou-me com sua seta de prata”, escreve Nélida Piñon no início de seu livro O pão de cada dia, reunião de crônicas e fragmentos publicada em 1994. Ela ainda não tinha 60 anos à época, mas já se perguntava: “Acaso é o começo da despedida?”.

Nélida faleceu no sábado passado, 17, aos 85 anos, em Lisboa. Carioca e neta de imigrantes espanhóis, formada em Jornalismo, foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Pouco lembrada nos últimos tempos, sua obra não tem junto aos leitores mais jovens a mesma ressonância que, por exemplo, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles.

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De qualquer modo, seus romances e contos foram traduzidos em mais de 30 idiomas e ganharam prêmios nacionais e internacionais, como o Príncipe de Astúrias (Espanha). A Nélida contista me vem agora à mente. É dela um de meus contos preferidos, Cortejo do divino.

Em lugar e época incertos, mas que evocam uma atmosfera medieval, um casal é preso e condenado por esta razão: amavam-se de maneiras que ninguém entendia, com inaceitáveis excentricidades. As evidências eram de “hábitos amorosos que contrariavam tudo que se inventara até então”. Nunca se separavam e, dizia-se, haviam ficado mais de 400 dias trancados em um quarto.

Era algo incompreensível; portanto, ameaçador. Quando questionados, na maioria das vezes, os dois emudeciam ou sorriam. Pelo bem da sociedade, foram apartados e trancafiados em cárceres diferentes. Mas a boa sociedade não estava satisfeita.

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Um ano após a prisão, pediram às autoridades que os libertassem. É que havia uma curiosidade invencível em relação àqueles dois, diante dos quais os outros sentiam-se envergonhados – de si próprios. Apequenados.

Uma vez soltos, homem e mulher passaram a caminhar lado a lado. E as pessoas decidiram segui-los, cada vez mais, para tentar descobrir a origem daquele sentimento que lhes escapava. Presenciar algum instante revelador, talvez. Mas nada aconteceu, pois o castigo persistia: mesmo livres, os parceiros não podiam se tocar. E assim fizeram. Nem sequer conversavam.

E eles procuravam as praças mais amplas, as ruas mais largas, para mostrar que agora não havia mais gestos condenáveis de amor. Para a perplexidade de uma multidão que os seguia dia após dia, consternada com o triste espetáculo que ela mesma criara.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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