Quando a colonização de Santa Cruz do Sul começou, em 1849, as primeiras áreas ocupadas correspondem hoje à zona rural. Linha Santa Cruz, Rio Pardinho, Alto Linha Santa Cruz e Boa Vista foram algumas das primeiras povoações. O governo provincial, liderado por João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, o Visconde de Sinimbu, era um grande incentivador do projeto colonial e já tinha planos para a criação de um núcleo urbano para ser a sede da colônia. A demarcação da área ocorreu em 1854, após uma visita de Sinimbu.
O motivo principal foi a rápida expansão da colônia, que começou com 12 habitantes e apenas sete anos depois, em 1856, já tinha 1.230 residentes. Além da desapropriação, o governante elevou Santa Cruz à condição de povoação. A urbanização tinha como objetivo proporcionar um local para que a numerosa população tivesse um espaço para congregar a prática religiosa e também tratar os negócios. Os primeiros lotes começaram a ser ocupados a partir de março de 1855.
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No livro Santa Cruz do Sul e sua evolução urbana, o professor, arquiteto e escritor Ronaldo Wink traz um extenso levantamento dos primeiros passos da criação da sede da colônia. O terreno pertencia à família de João de Faria Rosa e era ocupado também por outras famílias vizinhas. O local foi escolhido devido à grande disponibilidade de água, que chegava por diversas sangas e córregos que cortavam o vale em direção ao Rio Pardinho. Além disso, ficava próximo ao entroncamento da Picada Velha (Linha Santa Cruz) e Rio Pardinho.
O primeiro projeto urbanístico foi elaborado por Francisco Cândido de Castro de Menezes, que também ficou responsável pela medição dos lotes. O engenheiro alemão Frederico Heydtmann, José Luiz Teixeira Lima e o então diretor da colônia, João Martin Buff, colaboraram com o levantamento topográfico e muitas outras ações. Menezes, de origem portuguesa, foi escolhido em detrimento dos engenheiros alemães, e isso se reflete no traçado quadriculado do planejamento inicial, um modelo que não existia nas cidades alemãs da época.
A planta inicial remetida por Menezes para a aprovação de Sinimbu continha 23 quarteirões e duas praças, já prevendo a expansão. Destes, apenas oito quarteirões foram demarcados inicialmente, todos rodeando a praça. Cada quadra tinha 132 metros, assim como a praça. As ruas ganharam os nomes de Carumbé, Catalã, Imperial e Taquarembó. Hoje são Fernando Abott, Ramiro Barcelos, Júlio de Castilhos e 28 de Setembro, respectivamente. No sentido Norte-Sul, foram abertas a Tenente Coronel Brito, Marechal Floriano, Marechal Deodoro e Thomaz Flores.
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Ainda segundo a pesquisa de Wink, apesar da grande procura por lotes na povoação, isso não se refletiu em crescimento populacional imediato. O motivo é que muitos dos requerentes não tomaram posse nem construíram, em vista da escassez de recursos na época para a construção de edificações. A primeira casa foi erguida por Guilherme Lewis, no lote 1 da quadra H, onde hoje encontra-se uma instituição bancária, na esquina das ruas Ramiro Barcelos e Marechal Floriano.
Apesar de não ser mais do que uma vila com algumas residências e infraestrutura ainda muito precária, o posicionamento geográfico, a força das colônias e o grande número de estabelecimentos comerciais alavancaram o desenvolvimento de Santa Cruz logo nos primeiros anos da urbanização. O povoado servia como um entreposto com os mercados de Rio Pardo e Porto Alegre, alguns dos mais fortes naquele período. A produção era, em grande parte, consumida localmente, mas não tardou para que os intermediários, conhecidos como vendeiros, começassem a exportar o excedente.
Um relatório escrito em 1856 pelo diretor da colônia, João Martin Buff, mostra uma grande quantidade de produtos que havia sido exportada para outros centros. Feijão, milho, batata, erva-mate, tabaco, banha de porco e manteiga eram alguns deles, em um montante que chegou a 33 contos de réis. “Esse tipo de transação deu início ao enriquecimento por parte dos comerciantes, tanto da zona rural quanto da povoação, pois ao monopolizarem os meios de transporte, acabavam por reter a maior parcela dos lucros aferidos no processo”, afirma Wink.
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Em 1859, apenas dez anos depois da chegada dos primeiros imigrantes a uma área em que nada existia além da mata virgem e os cursos d’água, a colônia de Santa Cruz já possuía um núcleo urbano organizado, com diversas residências, comércios, oficinas e outras infraestruturas.
Ainda que a igreja católica não estivesse concluída, em 8 de janeiro o governo provincial elevou o povoado à categoria de Freguesia. Naquela ocasião, a população já ultrapassava os 2,7 mil habitantes e estava em franco crescimento.
As notícias da pujança em Santa Cruz não tardaram a se espalhar e continuaram atraindo imigrantes, alguns vindos da Europa e outros de São Leopoldo, onde passados 35 anos do início da imigração, os lotes já estavam escassos e cada vez mais caros. Com mais e mais pessoas chegando, a abertura de colônias deixou de ser tarefa exclusiva do governo provincial – que ainda foi responsável por iniciar Monte Alverne – e passou a companhias colonizadoras particulares. Passada mais uma década, em 1870, a freguesia já tinha uma população de 6 mil pessoas, com pouco menos de 10% desse total na cidade.
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O crescimento expressivo das colônias e também da sede fez com que Santa Cruz fosse elevada à categoria de Vila em 1877. Carlos Trein Filho, então diretor da colônia, entretanto, seguiu empenhado em conquistar a emancipação político-administrativa de Rio Pardo, que veio em 28 de setembro daquele mesmo ano.
A primeira Câmara Municipal seria fundada um ano depois, em 1878, em um prédio na esquina das atuais ruas Marechal Floriano e 28 de Setembro. Ronaldo Wink observa que a independência trouxe uma série de benefícios e facilidades, sobretudo na resolução de problemas locais e destinação de verbas.
Junto com a população, cresceram também as edificações na sede. Em 1893, as 14 ruas abrigavam 198 prédios. A então Rua da República (atual Marechal Floriano) tinha a maior parte delas, 49, seguida pela 28 de Setembro (21), Júlio de Castilhos (20) e Tenente Coronel Brito (17). Apenas sete anos depois, em 1900, a cidade já contava com 443 prédios, sendo 21 de dois pavimentos e um de três pavimentos.
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“Esse significativo crescimento urbano alcançado na virada do século foi potencializado sensivelmente pela administração do intendente Adalberto Pitta Pinheiro, que com grande competência administrativa deu início à implantação da infraestrutura necessária ao desenvolvimento de Santa Cruz”, diz o autor.
Nesse mesmo período, conforme descreve o professor e historiador Hardy Elmiro Martin no livro Recortes do passado de Santa Cruz, teve início a iluminação pública. Ainda sem energia elétrica, as 14 ruas na vila eram iluminadas por lampiões abastecidos com querosene. O serviço era executado por uma empresa contratada pela Câmara Municipal (ainda não existia Prefeitura) e variava conforme as fases da lua. Nas cinco noites anteriores e nade lua cheia, as chamas não eram acesas. Nas duas noites seguintes, meia iluminação.
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Esse método perdurou por 26 anos, até 1906, quando as ruas centrais começaram a ganhar lâmpadas elétricas abastecidas pela energia de uma usina movida pela queima de lenha. O local possuía uma máquina de 25 cavalos que produzia energia suficiente para 400 lâmpadas. A concessão foi assumida por Henrique Melchiors, e o local foi responsável por iluminar as vias públicas por quase 30 anos.
Paralelo à consolidação da energia elétrica, chegaram também as primeiras linhas telefônicas a Santa Cruz. Dos 46 aparelhos, 35 ficavam na cidade, sete em Villa Theresa (atual Vera Cruz) e o restante distribuído nas colônias. A partir de 1907, o intendente Galvão Costa, depois de muitas discussões com a população, deu início à construção do primeiro reservatório de água, localizado no atual Parque da Gruta. Mais de 200 toneladas de materiais, entre canos e outros itens para a operação, foram importados da Alemanha.
A partir da década de 1920, a população total já ultrapassava os 40 mil habitantes. Ainda que mais de 75% estivessem na zona rural, a industrialização e o desenvolvimento econômico multiplicaram as edificações e os residentes da zona urbana. Assim, o intendente Gaspar Bartholomay decidiu alargar a cidade com a demarcação de mais nove quadras. De Leste para Oeste, aumentaram as ruas Borges de Medeiros, Sete de Setembro e Tiradentes, resultando em 121 novos lotes que ficaram disponíveis aos compradores interessados.
O traçado quadriculado original foi obedecido, reforça Ronaldo Wink, e destacavam-se também as ruas largas. Essa realidade começou a mudar quando a cidade avançou em direção às colônias e não foi mais possível manter o aspecto de tabuleiro de xadrez. A planta urbana de 1940 mostrava claramente o avanço a oeste da Rua Carlos Trein Filho, com a criação da escola do Senai e a vila do Sesi. Já a partir da década de 1950, a expansão ganhou outros rumos, seguindo na direção noroeste, rumo aos distritos de Rio Pardinho e Sinimbu.
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