Categories: Clóvis Haeser

O colono das bibocas

Nesta crônica vou relembrar dos agricultores que viviam nas bibocas. Criaram-se longe da civilização, sem rádio ou qualquer outro meio de comunicação. Viviam naquele mundinho deles. O máximo de companhia eram os parentes que moravam por perto ou alguns conhecidos, que residiam longe da sua casa. Se alguém pedisse alguma informação do vizinho, diziam que moravam logo ali adiante.

As estradas eram precárias. Usava-se os caminhos de roça. Para se deslocarem à sede do distrito ou para a cidade, viajavam com as carroças até a estrada geral, puxadas por uma junta de bois ou pelos burros, que eram deixados na casa de um morador da beira da estrada geral. Pegaria na volta. A solidariedade era natural. Uma vez por semana, o ônibus de linha por ali passava e se deslocava até a vila.

Cada localidade tinha seu dialeto ou maneira de se expressar na língua alemã. A língua portuguesa, nem pensar. Essas pessoas eram boas e sinceras. Não tinham maldade, desde que não se mexesse com algum conhecido ou familiar. Puxar a faca da cintura era comum nas desavenças. Era grosso, mas não levava desaforo para casa. Além disso, a faca servia para picar o fumo em corda. Nada melhor que um bom palheiro.
 
Quando esses colonos chegavam a Trombudo, um pouco mais evoluída, notava-se a sua presença. Eram desajeitados, ariscos, desconfiados, com medo de serem enganados. A comunicação, péssima e limitada. Coitados, os espertos da vila faziam chacotas com os colonos. Ainda bem que não notavam.

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O problema maior consistia em enfrentar a grande cidade de Santa Cruz. Para atravessarem alguma rua na cidade, era uma dificuldade. Tinham medo de morrerem atropelados! O homem tomava a iniciativa. A coitada da mulher vinha correndo atrás do marido, que atravessava a rua em desabalada corrida. Ela que se virasse, pois a pele dele estaria a salvo!

Os moradores da cidade logo notavam quando se tratava de algum grosso vindo do interior. No comércio, o atendente era obrigado a falar a língua alemã. Se não soubesse, o colono simplesmente não entrava naquele estabelecimento. De preferência que alguém já o chamasse para dentro da loja na língua alemã. Lembram-se da antiga Casa Fuelber?

A grande tradição do agricultor, e que ainda persiste nos dias atuais, era chegar no Restaurante do Sulzbacher. Lá se encontravam com os outros colonos e comentavam como havia sido a venda das arrobas de fumo. Antigamente, a rodoviária ficava na esquina da rua Tenente Coronel Brito com a Ramiro Barcelos. O dono do bar conhece bem a mania do pessoal do interior. Os pastéis, a linguiça, o bolinho de carne, o frango, tudo que é de comer tem que ser do tamanho gigante para satisfazer esse agricultor, acostumado a comer bem pelo esforço desprendido na lavoura. E nada melhor ser acompanhado por uma cerveja bem gelada.

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