Nesta coluna, como é praxe, contarei uma das últimas tiradas da nossa caçula, Ágatha. Mas, antes, preciso comentar sobre os mistérios que, por ocasião deste mês farroupilha, tive oportunidade de investigar e transformar em reportagens aqui na Gazeta.
Uma delas, publicada no último dia 11, foi resultado de uma visita ao antigo Cemitério do Cedro, em Cortado, Novo Cabrais. Segundo relatos que passaram de geração em geração, no local estariam sepultados os corpos de combatentes farrapos que tombaram durante violenta escaramuça com tropas imperiais. Diz-se que sobre a cova rasa onde foram depositados os mortos foi colocada uma cruz tosca, feita com galhos verdes de cedro, que brotaram e deram origem à imensa árvore que dá nome ao cemitério. Até hoje os moradores de Cortado rezam para os espíritos dos guerreiros farrapos, em busca de graças e proteção. Relatam que eles assombram e expulsam quem chega à localidade para fazer o mal.
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Outros mistérios, que viraram reportagem publicada no 20 de Setembro, envolvem os combates travados entre farrapos e legalistas em Santo Amaro, hoje distrito de General Câmara. Tive acesso a dados apurados por pesquisadores que mostram a transformação de Santo Amaro em quartel-general do líder imperialista Chico Pedro – o temido Moringue, que tanto assolou os farroupilhas ao longo da revolução. Por lá, fiquei chocado com as histórias contadas de boca em boca acerca do rico estancieiro conhecido por Cara de Sola, aliado dos imperiais, uma figura cruel a ponto de colocar escravos, ao invés de bois, a puxar pesadas carroças.
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São relatos que, embora pouco referenciados pela história oficial, permeiam o imaginário destas comunidades e atraem alguns forasteiros – como eu –, por mérito de um ingrediente que seduz a maioria dos seres humanos: seu caráter misterioso. Talvez a vida fosse um tanto quanto insossa se não fossem as lendas, os mitos e os mistérios.
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E o anu, o que tem a ver com isso? Pois há duas semanas, enquanto eu estava às voltas com tais enigmas, um exemplar dessa ave invadiu nossa casa e se empoleirou sobre um móvel, no quarto da Isadora, onde permaneceu com o bico cerrado, exibindo sua exuberante plumagem, tão negra quando a noite, enquanto fitava a todos com olhos ainda mais sombrios. Primeiro se imaginou que fosse um corvo, ave agourenta, portadora de más notícias. Ainda assim, a Isadora venceu o medo e conseguiu apanhá-lo. Porém, Ágatha mostrou-se preocupada ao saber de nossa intenção de libertá-lo.
– E se for o corvo de alguma bruxa? E se estiver nos espionando, para ver se estamos gordinhos, prontos para virar papa no caldeirão?
Mas o anu foi embora. O que vem pela frente, agora, é mistério.
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